Restart!
Canterbury, 24 de julho de 2012 Beatriz, Passaram-se quase dois anos desde a última vez que te escrevi. Aconteceu no teu primeiro dia de vida. Desde então, tenho-me dedicado a comunicar contigo apenas oralmente. Em parte porque queria habituar-te ao som da minha voz. Mas, principalmente, porque me pareceu que a tua presença exigia-me a palavra falada. Diria que por entender ter outra força, a palavra falada. Mas a razão é talvez mais egoísta: queria sussurrar-te ao ouvido tudo o que estava impresso no meu sangue e não se sussurra escrevendo. O sussurro destina-se apenas aos ouvidos e ao vento. Mas, muito provavelmente devido à distância, sinto uma imperiosa necessidade de te escrever. Sei que me ouves, generosidade da tecnologia (não será a escrita já uma tecnologia, senão a mais avançada tecnologia humana?). Mas não se sussurra ao telefone. O metal que se insinua na voz ouvida ao telefone rasga a palavra viva. Por isso, como não se pode sussurrar ao telefone, posso, pelo menos