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A mostrar mensagens de junho, 2010

Boa música não te falta, minha filha!

Incentivado pela literatura para futuros pais (e outras piroseiras que encontramos na net) e pela provocação da tua tia woab , dei-te hoje muita mais boa música. Registo: às 23 semanas reages a Chopin e Grieg (pelo menos a Peer Gynt ) e dás pontapés ao ouvir Wagner (também pode ter sido pelo choco grelhado que o pai te deu, mas estou em crer que filha de peixe sabe nadar e serás uma apaixonada por Wagner, como o pai). Não reages a Bach nem a Vivaldi e adormeces (pelo menos a tua mãe adormeceu e não dei por teres dado saltos) a ouvir Carmina Burana (é tão antigo, não é?!). Tão pequenina e já tão selectiva, hã?!... Para já, vou insistir naqueles que pareces mais gostar. Pode ser que venhas a ter melhor ouvido que os teus pais!

E depois de Vivaldi, Chopin, com o Estudo n.º 3 - Tristeza...

Sons

Dizem que os bebés reagem às Quatro Estações , de Vivaldi. Das duas, uma, Beatriz: ou não vais nada às compras com música clássica, ou gostaste tanto que te puseste bem quietinha no teu canto, para não perder piatada dos alegros , adagios e largos do il prete rosso*. Pelo sim, ou pelo não, vou continuar a oferecer-te boa música. Não sei se ganharás bom gosto, mas tentar não custa e é bem mais fácil ouvir os velhos grandes mestres do que as piroseiras que constituem as músicas para bebés. * Padre vermelho , não por ser comunista, mas por ser ruivo! PS - Hoje fui visitar a tua prima Maria Inês. Para além do prazer que é ver a giraça, ia com uma missão secreta, que não ousei contar nem à tua mãe: ando a ver se aprendo bebês , para quando nasceres podermos encetar as nossas longas conversas. Já tenho a promessa da tua prima, que me foi dada em forma de choro contínuo e persistente - e que apesar dos soundbites debitados pelos pequenos pulmões, mais ninguém se apercebeu -, que terei uma

Quantas vezes as mães cantam, com vontade de chorar?!

Canção de embalar (música tradicional madeirense)

Borboletinha

Vem ter connosco, sempre com passos seguros, mantendo a comunicação aberta. É-me imprescindível ouvir o som vivo da tua voz. Depois de a ter ouvido pela primeira vez, sob a forma de bater de asas de uma borboleta - minha pequena borboletinha! - a ausência de sinal de ti é insuportável.

Golden Child

No domingo passado, convidei a tua tia Arcília para tua madrinha. Ela não se limitou a aceitar: poucas vezes a vi tão feliz. Ela, que será avó pouco tempo antes de voltar a ser tia (e madrinha) sentia-se como uma criança com prenda nova perante a iminência de seres sua afilhada. Filha, assim és tu: ainda não nasceste e já alteras a vida dos que te rodeiam, enchendo de alegria os que são tocados por ti. És uma pequena Midas, que transforma em ouro tudo o que tocas

(A)guardo-te!

Pequenina, sei que vens vindo. Estás a caminho de te fazer pessoa, de encontrar o teu lugar neste nosso mundo. A tua mãe diz - e com propriedade - que te procurou sempre e que a tua existência é imemorial. Que precedes as 250 gramas que constituem o teu corpinho. Sinto que é verdade, isso que a tua mãe te diz. Não, tenho certeza, porque apesar de te ter descoberto há pouco, parece-me que a tua alma é velha, sábia. Serás o equilíbrio, a ponderação, o balanço que por vezes falta ao teu pai. E é essa certeza da tua precedência que me ilumina. Sinto que te coheço há muito, ainda que a tua descoberta seja recente. E és salvação, porquanto portadora da esperança. Aguardo-te, minha pequena bailarina. PS - Amo-te!

Porque não te oiço

A tua existência impôs-se-nos. Não há mundo sem Beatriz (terá alguma vez havido?) e por isso, quando não te oiço, desespero! Sim, é natural que nem sempre "espulangues", com essa vivacidade que nos enternece e nos faz, também, sentir vivos. Mas, Beatriz, qualquer ausência tua "neantiza"-nos, elimina essa possibilidade de ser(mos), que nos é dada pela tua aparência. Porque és, fazes de nós ser, conferes-nos essa qualidade. E o drama da nossa existência já é a abstinência de ti. Tenho saudades de te ouvir. No fundo, tenho saudades de te ver nascer...
Beatriz, hoje li sobre um mito de mulheres devoradoras de homens. Sobre mulheres grávidas, que são mulheres fartas, bem-alimentadas. De repente, senti-me alimento, na tua boca e na da tua mãe...

Beatriz, porque te descobrimos o nome

Já és sem que o tivesses sido. És Beatriz porque te descobrimos o nome. A tua mãe procurou-te, o teu pai descobriu-te. Não imaginava que existias, nem sequer sabia que o fio que vos liga já estava tecido. Mas a perseverança da tua mãe, a certeza gritada pelo seu coração, guiou-nos até ti. Neste momento, neste derradeiro momento, és tu quem caminhas até nós. Vens pelo espaço sem tempo, cruzas já os anéis de Júpiter e percorres esta distância que nos medeia. Vens saltitando, com olhos doces e riso traquina, nesse jeito pueril que terás de ser mulher. Vem Beatriz até nós. Vem sem pressa, mas não te atrases. Aguardamos-te ansiosamente. És o nosso maior amor, pequenina.

Beatriz

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Bum-bum! Bum-bum! Bum-bum! Até hoje, apenas te reconheço esta voz. Este som que te faz vida, que assinala a tua presença, que me garante que não és simples memória de um sonho. Pelo som que nos concedes, não é, ainda, possível, identificar qualquer reacção tua, qualquer sentimento, qualquer desejo. E, no entanto, falamos… Estabelecemos, já, longos diálogos, como promessa do que há-de vir, sobre a Vida e sobre o Amor. Já estabelecemos um elo inquebrável, que não se reduz a qualquer exoterismo ou misticismo oco. Já me demonstraste que és, porque existes, não como essência, mas como presença no plano da existência. Não leste Sartre, não leste de Beauvoir, não leste Camus, mas já te instituíste. Uma existencialista que me saíste, tu! Bum-bum! Bum-bum! Bum-bum! Com a tua atitude assertiva, o teu carácter vincado, demarcas já o teu espaço. Uma General de 400 gramas, do tamanho da minha mão – mas é uma mão grande, dizes-me sorridente e já me condenando à veneração a uma deusa pagã! Bum-bum! B