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Fala o velho. Já te amava, quando me alertaste para não me apaixonar por ti. Por isso não te perdoo o atraso no alerta. Deverias ter-me avisado que te entregavas por metade e que era isso que exigias aos outros. Fala ela. A decrepitude não te permitiu perceber que um corpo ama no momento em que é amado. Depois, volta unicamente a amar-se. Ao contrário do que pensas, as estrelas não se agregam. Afastam-se eternamente. Fala o velho. Tens razão. A senilidade é a minha condição de ser. E tu sempre foste demasiado moderna. Mas também sei que és bondosa. Fala ela. De novo a técnica do espelhamento? Não vês que já não há mimetismo entre nós? Sei demasiado. Posso berrar e os teus sussurros graves já não me acalmam. E sinto prazer em saber que não saciarei a excitação que a minha voz aguda te provoca. Fala o velho. Mas se a palavra mente e por isso a banalizas, sabes bem que o rosto é verdadeiro. Fala ela. O rosto é o maior mentiroso social. O que diz não é verdade. Aind