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A mostrar mensagens de 2016

A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.

Vejo por aí muitos indignados com a indignação, tristeza e revolta de outros pelo que se passa em Alepo. Pela minha parte quero deixar claro que sinto revolta e angústia sempre que vejo um ser humano em sofrimento. Ainda para mais se o sofrimento for provocado por ações violentas de outrem. E se as vítimas forem crianças, a minha angústia cresce exponencialmente. É verdade, quando assisto a um vídeo de um pai a despedir-se do filho, ou de uma adolescente a despedir-se do mundo, sou incapaz de calar a revolta e a indignação. Sim, confesso que me entristece assistir a tragédias reais. E não tenho problema em manifestar essa minha opinião. Porque também acho que quanto mais pessoas tiverem conhecimento, quanto mais pessoas se indignarem, menos atrocidades permanecerão ignoradas e impunes. Se a indignação subir à garganta das multidões, com certeza será mais difícil a inação. Mas, ainda que assim não fosse, creio que é a capacidade que ainda tenho para me indignar que me afasta do

Helena Marques

Apaixonei-me pela escrita da Helena Marques há já quase 20 anos, quando lhe li, pela primeira vez, O último cais (“Marcos deixou-se amar, sorveu nela o apaziguamento e a paz, a companhia e o prazer”, ou ainda aquela outra passagem, sobre o ato de amor entre Carlos e Raquel, talvez uma das melhores descrições feitas até hoje por autores portugueses que, frequentemente, tendem a cair na pornografia). O enredo, o contexto (a ilha, a sua história e as suas inúmeras histórias) e a escrita apaixonada deixaram-me fã. A admiração pela sua escrita foi sendo aprofundada pelo Terceiras Pessoas e pel’A deusa sentada, pois mantinha-nos com aquela impressão violenta da paixão que, decididamente, marca a sua escrita. Fiz um interregno de alguns anos e voltei-me a cruzar com a autora n’O Bazar alemão e mais uma vez lhe descobri a escrita exaltante e exaltada. Passaram-se mais uns anos e recentemente li Os ibis vermelhos da Guiana e Ilhas Contadas. Ora, se o talento está bem presente em cada

A Minha Filha (Vendo-a dormir)

Que alma intacta e delicada!   Que argila pura e mimosa!  É a estrela d'alvorada  Dentro dum botão de rosa!  E, enquanto dormes tranquila,  Vejo o divino esplendor  Da alma a sair da argila,  Da estrela a sair da flor!  Anjos, no azul inocente,  Sobre o teu hálito leve  Desdobram candidamente,  Em pálio, as asas de neve...  E eu, urze má das encostas,  Eu sinto o dever sagrado  De te beijar— de mãos postas!  De te abençoar — ajoelhado!  Guerra Junqueiro

E vão seis!

Passaram-se seis anos, minha filha, desde a primeira vez que te vi. Essa primeira memória visual está-me impregnada na alma e continua a queimar-me a pele: a cara redonda, a lembrar a lua cheia (Sarangerel, lembras-te?), os olhos como duas azeitonas pretas, a precoce incapacidade de estar quieta por apenas um momento e a voz?... Aquela voz de quem ruidosamente se faz anunciar no mundo! Passaram-se seis anos, querida, e continuas a fazer-te anunciar com estrondo. Ou sou eu que sinto um estrondo, sempre que olho para ti. Sangue de mim, corres-me nas veias! Passaram-se seis anos e se tanto mudou, meu doce, há tanto que permanece igual. O amor que te tenho, a felicidade que me trazes, a cumplicidade que nos une. Porque vieste até mim e entraste na minha vida sei que sou hoje mais homem e mais humano, mais solidário e mais atento, mais carinhoso e vigilante, mais altruísta e mais meigo. Mudaste toda a minha vida. Para melhor. Há seis an

Sobre a razão e argumentação

A utilização excessiva de adjetivos, num discurso que se pretende argumentativo e racional, não contribui para o esclarecimento, nem para a lucidez do debate. Apenas serve para afagar o ego de quem a utiliza (porquanto na falta de argumentos racionais válidos) e para despertar reações negativas, que se mantêm latentes no nosso hipotálamo. Curioso que a sua utilização excessiva (dos ditos adjetivos) também é reveladora do basismo de quem a utiliza, que se mantém preso às emoções primárias ou primitivas do sistema reptiliano. Vem isto a propósito de umas polémicas presentes nas redes sociais sobre intervenção cívica e cidadania. A cidadania deve ser exercida com racionalidade e razoabilidade e não agarrada e sentimentos viscerais.

Inquietação

No dia 2 de Outubro realizaram-se dois referendos, sobre dois assuntos diferentes, em dois países afastados por milhares de quilómetros, mas ambos com resultados terríveis para a humanidade: 1.º - Na Hungria, pouco menos de 50% dos eleitores estão contra o acolhimento de 2000 refugiados; 2.º - na Colômbia, a maioria dos que se deslocaram às assembleias de voto, votaram não à seguinte questão: "Apoia o acordo final para terminar o conflito e pela construção de uma paz estável e duradoura?". São tempos inquietantes, estes em que vivemos.

Sobre o compromisso

O purismo ideológico impossibilita qualquer forma de compromisso! E não há política, nem democracia, sem consenso, nem defesa do interesse público sem compromissos.