VITÓRIA
No passado dia 4 de janeiro de 2024, fui deixar a minha filha Beatriz ao aeroporto do Funchal, para o regresso a Évora, após a passagem de ano comigo.
Depois de a entregar ao funcionário que a acompanhou, subi ao terraço, à espera de ver a Bia entrar no avião e a aguardar pela sua partida.Obviamente que estava muito triste pela despedida e contava os dias para voltar a estar com a minha filha.
Enquanto estava cá fora, vi uma linda menina, com uns 4 ou 5 anos, a brincar, correndo de um lado para outro. Estava acompanhada pela família que, como vim a saber mais tarde, era composta por pai, mãe e tio.
De vez em quando, a menina aproximava-se e parava, encostada a mim. Ria-se e voltava a correr.
Entretanto, a Bia entrou no avião e a menina continuava a brincar. Assim que A321 iniciou a saída para a pista, a menina aproximou-se novamente e ficou parada a olhar para mim. Falei-lhe, fiz-lhe carinhos no cabelo e também nada disse, nem se mexeu. Perguntei-lhe o nome e ela continuava vidrada em mim, encostada à minha perna, estática.
O pai, dando pela ausência da menina, procurou-a e vendo-a, sorriu, dizendo: "Vitória, achas que é o tio? Não é o tio!"
A pequena Vitória mantinha-se em silêncio e impávida, encostada a mim. O pai aproximou-se e disse: "Vitória, não é o tio. Vitória, Vitória, estás bem? O que é que se passa?"
A menina, nada. Eu continuava a fazer-lhe carinhos nas costas e na cabeça, sem entender o que estava a acontecer.
O pai baixou-se e disse-lhe: “Vitória, não me assustes…”. Quando se levantou confessou que a pequena Vitória sofria de ataques de epilepsia, desde bebé. E que por isso, estava preocupado.
Voltou a colocar-se de joelhos e pegou nela ao colo, chamando pela mãe, que veio imediatamente. Prontamente saíram para o carro, com o tio atrás, no exato momento em que o avião, que levava a Bia, levantou voo.
Desejei que corresse tudo pelo melhor com a Vitória e o pai sorriu e seguiu apressado.
Presumi que fossem para o hospital, pois nada sei sobre epilepsia.
Como devem imaginar, para além de um aperto no coração por preocupação com a menina, fiquei atónito com o que acabava de se suceder. E com a firme sensação de que a Vitória sentiu a minha tristeza. Pode parecer místico, sentimentalista ou apenas tonto. A verdade é que foi com essa sensação que abandonei o terraço e me dirigi para o estacionamento.
No parque 0, paguei e fui para o carro. Entrei e enviei uma mensagem. Preparava-me para seguir e olhei pela janela, vendo, a três carros de distância, o pai da Vitória. Desliguei o carro, e dirigi-me até ele, que estava com o irmão (presumo que o seja) e tinha a porta do seu carro aberta. Entrevi a Vitória, na cadeirinha, inconsciente. Uma vez que os familiares estavam calmos, percebi que estaria a dormir.
Perguntei: “Então e a Vitória, como está?”
- “Está bem, a dormir. Acho que foi uma crise ligeira”, respondeu.
O tio acrescentou: “ela é assim desde que nasceu. Nasceu muito pequenina…”. Prematura, imagino!
Apertei a mão aos dois, desejei o melhor do mundo para a linda menina Vitória e vim embora.
O pai e o tio agradeceram a minha atitude, ao me ter dirigido à família. Pareceu uma família simples, mas muito rica em amor e atenção à Vitória. E a menina, nos momentos anteriores à crise, também me pareceu uma menina feliz.
Como disse, pode ter sido uma coincidência, um capricho do acaso, ou algo mais profundo e/ou espiritual. Não sei!
Sei que fiquei perplexo com o que se havia passado e sentindo uma profunda ligação emocional e afetiva à menina Vitória, que ainda hoje perdura.
Parece patetice, mas olhem, é o que sinto.
Foi o que aconteceu!
Comentários
Enviar um comentário