As instituições do passado não são boas por serem antigas, mas são antigas por serem boas*


O que significa, para mim, ser conservador no Séc. XXI?
Não há uma resposta simples, óbvia a inequívoca a esta pergunta. Vamos a alguns pontos prévios.
As ideologias são espectros dos quais quase todos nós partilhamos. Alguns mais do que outros e nalguns casos mais do que noutros. Porque todas as ideologias têm premissas (chamemos-lhes assim) universais que ninguém recusará e porque todas elas padecerão de vícios que dificilmente serão aceites por todos. Ora, eu, como qualquer outro, também perfilho várias ideias de outras doutrinas ideológicas, não me considerando, de todo, um conservador “puro”.
Por outro lado, não estão traçados com rigor os limites de cada uma das ideologias. Onde termina o Comunismo e começa o Socialismo? Qual a fronteira entre o Socialismo e a Social-Democracia? Mais, as próprias ideologias também não são imutáveis: vão-se ajustando aos contextos sociais, culturais, económicos, geográficos, temporais e políticos. Mantendo premissas-base, as ideologias hoje não são iguais ao que eram há 20 ou 30 anos.
Feito este esclarecimento prévio, há um ponto de partida inicial para qualquer conservador: a transformação social deve ser feita de forma gradual, suportada na tradição e nos conhecimentos acumulados, em observância pelas diferentes idiossincrasias de cada povo (conforme nos foi proposto por Edmund Burke). O progresso social (diferente de inovação, porquanto esta não é automaticamente positiva) é feito de forma cumulativa e não disruptiva. E se é bom adquirir, conforme nos ensinou Goethe, melhor será conservar, pelo que a atitude conservadora é uma atitude de prudência.
Um conservador não acredita em fórmulas ideais ou universais de organização social que salvem a humanidade, nem em mudanças ou inovações que qualifiquem necessariamente e de forma radical a vida quotidiana. Pelo contrário, deve cada comunidade definir a sua própria organização, de acordo com as suas estruturas tradicionais, ainda que recebendo e valorizando os contributos da contemporaneidade que se revelem efetivamente positivos para a qualidade de vida das pessoas. Deste ponto de vista, o conservadorismo faz a apologia da família e da comunidade (entre outras estruturas tradicionais) como forma de combate quer ao individualismo (cristalizado pelo Estado liberal) quer ao coletivismo (ou igualitarismo universal, que anula a individualidade), afirmando-se como legítimo fundador do princípio da subsidiariedade que assumiu especial relevância no personalismo. Isto é, para o conservador, o centro de decisão deve estar tão perto das pessoas quanto possível. E aqui entramos naquilo que é a minha posição conservadora: ser conservador é, para mim, alguém que assume que no centro das decisões políticas está a pessoa humana e a sua dignidade inalienável, conforme descrita por Mounier e que seguiu em paralelo com a Doutrina Social da Igreja, inaugurada pela encíclica "Rerum Novarum”.
Se é meritório este posicionamento? Poderemos discutir. Mas teremos de conhecer um pouco mais, para que as nossas opiniões sejam mesmo melhor informadas.

*Máxima do Tradicionalismo
Publicado também no Tubo de Ensaio

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