NACIONALIDADE CELEBRADA COM A DIÁSPORA Opinião | 14/06/2018 08:26


As migrações são uma idiossincrasia do ser humano. Ocorreram em todas as fases da história da humanidade e a partir de todos os territórios onde estivemos. Assim, chegámos e povoámos todo o planeta.
Mas sendo uma característica própria da humanidade, nem todas as nações constituem comunidades além-fronteiras. A mais conhecida será, talvez, a judaica que, devido à dispersão do seu povo, constituiu uma diáspora exilada, primeiro na Babilónia, no longínquo século VI A.C e, depois, pelo resto do Mundo Antigo.
Outros casos conhecidos serão a Diáspora Grega, que se espalhou pelo Mediterrâneo e mais recentemente a Irlandesa, que povoou os Estados Unidos.
Portugal, que, tradicionalmente, é uma terra de emigração, é simultaneamente a “Pátria das Comunidades”, como a designou Correia de Jesus, numa afirmação muito feliz. Pensar-se-ia: “mas uma terra de emigração é uma terra de diáspora”. De acordo com alguns estudiosos não é bem assim, uma vez que a definição de comunidade pressupõe uma série de condições e características que não se verificam entre todos os emigrantes. No caso português, todavia, não há dúvida: somos uma nação constituída por comunidades espalhadas por todo o planeta.
Prova disso é o facto de sermos o único país no mundo que celebra a nacionalidade, a Língua, um poeta e a sua Diáspora num único dia. Significa isso que nos reconhecemos como nação pela nossa língua, pela nossa cultura e em cada um dos nós, portugueses, onde quer que estejamos.
Apesar de termos iniciado a nossa dispersão com os processos de expansão imperial e colonização, a verdade é que as nossas comunidades, como as conhecemos hoje, foram sendo constituídas pela emigração económica que ocorreu para o continente americano, com especial enfoque para o Brasil, Estados Unidos, Canadá, Caraíbas e Havai; e pela emigração económica e política para a Suíça, Alemanha, França, Luxemburgo, Austrália, África do Sul, Venezuela e, mais recentemente, Reino Unido.
Em todos estes países constituímos comunidades que se mantêm, com maior ou menor intensidade, mesmo entre os lusodescendentes que, na generalidade, assumem um forte vínculo à terra dos seus antepassados, à sua língua e à sua cultura. Aliás, uma comunidade é exatamente isso: um conjunto de pessoas que partilha Língua, crenças, arte, tradições, costumes e valores.
Como sabemos, as comunidades madeirenses estão maioritariamente viradas a Sul, à exceção das existentes no Reino Unido e, em menor dimensão, Canadá, EUA e num ou noutro país da Europa continental.
E é a Sul que temos comunidades porque, como ouvi alguém dizer, era para sul que seguiam os barcos.
Ao partir e até porque muitas vezes não regressavam, os nossos emigrantes levaram, entre os seus pertences, algumas das suas heranças mais valiosas, como a sua cultura e a sua identidade religiosa.
Prova disso são as inúmeras instituições de carácter social e cultural que integram o movimento associativo madeirense espalhado pelo mundo, bem como o número assinalável de santuários, igrejas e capelas edificados por vontade de madeirenses.
Serve tudo isto para dizer que faz bem o Presidente da República em celebrar o Dia de Portugal junto das comunidades portuguesas na Diáspora. Faz bem porque é lá que estão cerca de 5 milhões de portugueses e porque é lá que se vive com mais intensidade a portugalidade.
Este ano, as celebrações oficiais estiveram repartidas entre os Açores e os Estados Unidos. O que faz sentido, porque a comunidade portuguesa naquele país é maioritariamente de origem açoriana.
Para o próximo ano – e tendo o Presidente da República já assumido que as cerimónias, em território nacional, terão lugar no Funchal, associando-se, assim, à celebração dos 600 anos de achamento da Madeira – espero que seja selecionada uma diáspora madeirense virada a Sul. E espero – melhor, estou certo! – que assim vai ser porque é inevitável que a República reconheça o quão merecedoras de carinho e consideração são as comunidades madeirenses, não apenas por aquilo que fazem nas suas sociedades de acolhimento, mas essencialmente por aquilo que têm feito e continuam a fazer seu país e pela sua Região! 

https://www.jm-madeira.pt/opinioes/ver/1388/Nacionalidade__celebrada_com__a_Diaspora

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