OS PARTIDOS DO SISTEMA SÃO UMA TRETA, MAS HÁ MELHOR? Opinião | 21/02/2019


Frequentemente, ouvimos comentadores, jornalistas, empresários, dirigentes associativos e corporativos e até o anónimo cidadão queixarem-se da fraca qualidade dos políticos portugueses, bem como do imobilismo e da reprodução de hábitos e vícios antigos pelos partidos “do sistema”.
A teoria generalizada defende que os partidos estão absolutamente capturados por caciques, que dominam exércitos de apparatchiks, que outra coisa não sabem fazer a não ser parasitar o Estado. Uma horda que apenas serve para alimentar e engordar a sua própria clientela, de forma a perpetuar-se no poder.
Defendem a necessidade de maior participação, a renovação de quadros políticos. Sublinham os constrangimentos criados pelos partidos políticos à participação cidadã e independente. Afirmam que não faltam mulheres e homens, nas empresas, nas associações, nas universidades, com qualidade inquestionável e competências excecionais, mas que não se interessam por política porque esta está refém dos partidos do sistema.
Nada disto é absolutamente incorreto. De facto, vivemos numa partidocracia que impõe sérios limites à participação da sociedade na vida política nacional. A impossibilidade de plataformas de cidadãos candidatarem-se às eleições legislativas ou europeias e a ausência de círculos uninominais ou o atavismo dos partidos, que obstaculizam qualquer reforma ao sistema, são alguns exemplos que dão razão a estas críticas.
Assim se compreende o aparecimento de tanta plataforma, movimento de cidadania e mesmo novos partidos, que se anunciam precursores de uma outra práxis política. Não os consigo contar todos. Foram às dezenas desde o 25 de abril. E nos últimos anos, têm aparecido como cogumelos.
Não lhes nego o legítimo desejo de fazer diferente, nem a nobreza das intenções. O problema é que havendo tanta gente, com tanta qualidade e com tanta vontade de participar, como se anuncia, a maior parte dos que integram essas plataformas, movimentos de cidadania e partidos, são ainda menos preparados do que aqueles que se apresentam pelos partidos do mainstream. Mais, são constituídos, na maior parte das vezes, pelo refugo desses mesmos partidos. São aqueles que não se conseguiram impor e cujos anteriores partidos não lhes reconheceram a qualidade que reclamam para si. Creem que os aparelhos partidários não os deixaram, porquanto minados pela mediocridade que inveja a excelência das suas competências. Que foram perseguidos. Que foram ostracizados. O problema é que, depois de criadas essas plataformas, na maioria dos casos os protagonistas revelam muita vulgaridade e incapacidade política. Isto, nalguns casos, porque noutros, como que por um processo de osmose, mostram ter rapidamente assimilado as piores características que tanto criticavam aos outros.
E isto acontece com os nóveis partidos, mas também com as tais plataformas ou coligações que supostamente nos viriam libertar do caciquismo tradicional.
Alguns exemplos: veja-se o que se passou com as duas coligações lideradas por Paulo Cafôfo à Câmara Municipal do Funchal. Da primeira coligação, inicialmente composta por 6 partidos, sobraram dois. Todos os outros, e citando um dos seus protagonistas, foram “defenestrados” pelos caciques. Já da segunda coligação, constituída por 5 partidos, apenas restam 3. Dois deles não resistiram, uma vez mais, ao caciquismo que rapidamente se apossou do projeto político e impôs as cliques das relações de influência e de dependência dos dirigentes.
Que quer isto dizer? Que duas plataformas lideradas por um independente, alegadamente sem a influência “nefasta” das clientelas partidárias, em muito pouco tempo foram capturadas por interesses que de públicos nada têm.
Querem outro exemplo? A Aliança, de Santana Lopes, que, apenas alguns dias após o seu congresso, onde a retidão e seriedade na vida pública foram apresentadas como características do projeto, é “apanhada na esquina”, sendo um dos seus vice-presidentes acusado de crimes de peculato e prevaricação.
​Mas temos ainda outros exemplos, como aquelas plataformas que dão palco a protagonistas como o “nosso” Coelho ou aquela outra que vai transformar o renascido “Tino de Rans” num candidato a PM. Poderíamos ainda ir buscar os populistas que também emergem destes projetos políticos alternativos, como o Marinho Pinto, a Joana Amaral Dias ou André Ventura.
Por outro lado, estes projetos constituem-se também como íman para o tal “refugo partidário” de que falava anteriormente: apanham de tudo, desde os cata-ventos aos ressabiados; dos ignorantes atrevidos aos frustrados; dos gananciosos aos incapazes. Veja o que tem acontecido com muitos dos desiludidos do PSD-M.
Sim, pelo meio também apanham com gente competente, idónea e verdadeiramente interessada na defesa do interesse público. Felizmente, conheço alguns. São, contudo, uma ínfima minoria. Por isso é que me pergunto e pergunto ao meu amigo leitor: estamos de acordo que os partidos do sistema são uma treta. Mas há melhor?

https://www.jm-madeira.pt/opinioes/ver/2187/Os_partidos_do_sistema_sao_uma_treta_mas_ha_melhorf

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