EUROPEIAS: SE RIO DISSE UMA TOLICE, O PS FEZ UMA ASNEIRA ABSURDA! Opinião | 21/03/2019 08:23


É preciso dizê-lo com toda a clareza: não entende a autonomia quem nunca viveu na Madeira e/ou nos Açores. E um continental, vivendo nestas ilhas, leva anos para sentir a autonomia como nós, ilhéus, a sentimos. A explicação é simples: os ilhéus almejaram e lutaram pela sua autonomia durante séculos e esse sentimento está impregnado na nossa pele e inscrito no nosso sangue.
E a realidade veio comprovar a justiça desta aspiração histórica: quatro décadas de autonomia favoreceu maior desenvolvimento económico e social do que aquele que foi proporcionado, em 5 séculos, pelo Terreiro do Paço.
Isto é mesmo assim, ainda que queiram fingir que não. Mesmo os que mais combatem o centralismo de Lisboa, frequentemente mostram a sua incompreensão para com a comunidade política diversa que se constitui nas regiões autónomas. Aliás, isso é facilmente observável na forma como políticos, comentadores e jornalistas do continente confundem autonomia com descentralização ou desconcentração ou, até, com regionalização.
Ainda assim, não deixam de ser surpreendentes as palavras de Rui Rio sobre a inexistência de um candidato dos Açores em lugar elegível, na lista do PSD às eleições Europeias.
Recorde-se que Rio afirmou caber “este ano à Madeira representar as Regiões Ultraperiféricas e cabe ao gabinete da deputada Cláudia Monteiro de Aguiar integrar pessoas dos Açores para que possa, também, estender a sua atividade nos Açores”.
Ora, já todos percebemos que quando os políticos do Porto reclamam por descentralização, em boa verdade apenas pretendem a deslocalização de Lisboa para o Porto. O que indicia um pensamento muito pouco descentralizador.
Não obstante, esta afirmação, reveladora da visão centralista daquele que já se afirmou como o paladino da desconcentração, é surpreendente porque vai ao arrepio daquela que tem sido a prática do PSD desde que Portugal aderiu à União Europeia. E revela a simplicidade de pensamento de Rio, ao pretender que Madeira e Açores, porque arquipélagos portugueses, padeçam das mesmas realidades.
Desconheço as razões pelas quais a Comissão Política do PSD não colocou Mota Amaral em lugar elegível. Contudo, como autonomista convicto que sou, não posso deixar de repudiar esta ausência de um candidato açoriano. Não apenas porque deixa por representar uma importante parcela do território nacional, com muitas especificidades próprias, mas também porque se agora acontece com os Açores, amanhã acontece com a Madeira.
Mas Rio ainda fez pior: apresentou Cláudia Aguiar “apenas” como a candidata madeirense. Mais uma vez revelou a soberba com que continentais, por vezes, olham para as Regiões. E para os nossos representantes e para o seu trabalho. Cláudia Aguiar está na lista em lugar elegível por mérito próprio, porque ao longo deste seu primeiro mandato como Eurodeputada revelou uma enorme tenacidade na defesa intransigente dos interesses da Madeira e, consequentemente, de Portugal. Mostrou-se diligente nas comissões que integrou, e hábil nas propostas, relatórios, pareceres e perguntas que fez. E com isso, ajudou a robustecer a União Europeia das Regiões. Fez, portanto, um ótimo mandato e foi esse reconhecimento que permitiu que integrasse a lista do PSD.
E não tenho dúvidas de que Cláudia Aguiar se irá tornar também a defensora das causas açorianas. Mas assim será porque é uma eurodeputada portuguesa capaz, competente e com noções claras do que é servir o interesse público.
E se Rio disse uma tolice, o PS fez uma asneira absurda: não apenas dispensou Liliana Rodrigues que está a concluir um mandato igualmente muito positivo (se não tem sido a eurodeputada socialista com melhor prestação, não anda longe disso), como opta por substitui-la por uma candidata que, a crer nas intervenções públicas que tem feito – e se tem sido promovida mediaticamente! -, não tem uma única ideia sobre a Europa, para Portugal ou para a Região.
De facto, as intervenções de Sara Cerdas são de uma vacuidade perturbante. Lemos e não lhe reconhecemos um pensamento ou uma reflexão. Mais do que pobreza política, é a absoluta ausência de proposta, com afirmações que nem chegam a ser lugares-comuns!
Não sei se foi uma imposição de Lisboa - o PS-M engole tudo o que Lisboa lhe queira enfiar goela dentro – mas seja ou não, Madeira e Portugal, a crer no que tem (a)parecido, ficarão sub-representados no Parlamento Europeu. Estará, mas poderia não estar, porque não se notará a presença. E entre estar e não parecer ou não estar de facto, creio que é menos humilhante, como autonomista, não ter nenhum representante. Ao menos não se passa por vergonhas alheias. Por isso, mesmo com a desfeita de Rio, parece-me que estão melhor os social-democratas açorianos do que os socialistas madeirenses. Se é para parecer não estar, que não esteja mesmo!

https://www.jm-madeira.pt/opinioes/ver/2287/Europeias_se_Rio_disse_uma_tolice___o_PS_fez_uma_asneira_absurda

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