“AMOR EM TEMPO DE MUROS”* Opinião | 20/06/2019 08:44
São dias escuros
Meu Amor,
Amor em tempo de muros
Somos do lado dos puros,
Amor sem tempo e sem muros.
Pedro Abrunhosa
Assinala-se hoje o Dia Mundial do Refugiado, data em que se pretende prestar homenagem à resistência e à força de todos aqueles que foram obrigados a fugir de suas casas, por motivos de perseguição, calamidades ou de guerra.
De acordo com as Nações Unidas, temos hoje 70,8 milhões de pessoas deslocadas dos seus países. Se acrescentarmos os “refugiados das alterações climáticas”, isto é, todas aquelas pessoas que se vêm forçadas a imigrar devido aos impactos negativos que as alterações climáticas têm sobre as suas regiões, este número deverá ultrapassar a centena de milhões. São números assustadores e que não tendem a diminuir. Aliás, a tendência é para que o número de “refugiados do clima” continue a crescer, atendendo à subida do nível das águas do mar e ao agravamento de fenómenos meteorológicos extremos.
Por si só, estes são já motivos de preocupação que, pelo menos nesta data, nos deveriam levar a refletir.
Mas a realidade tende a ser ainda mais assustadora: o Mar Mediterrâneo continua a ser o maior cemitério a céu aberto e a União Europeia continua a não ter uma resposta concertada para lidar com as vagas de refugiados que nos chegam de África e do Médio Oriente. A repressão ou a construção de “muros” não podem ser a única solução que a Europa, farol dos valores humanistas, tem para dar a quem nos bate à porta.
Com a agravante de termos agora um país - Itália - que pretende perseguir todos aqueles que voluntariamente e altruisticamente põem a sua vida em risco para salvar outros. Como dizia Miguel Duarte, o português acusado pelo Ministério Público italiano de ajudar a imigração ilegal: “salvar vidas é o que está certo”. E é bem assim, meu jovem. E por isso, porque ousaste fazer aquilo para o qual não tivemos coragem, é que te estamos gratos.
Mas, como madeirenses, também nos mantemos preocupados com a realidade na Venezuela e com a grave crise humanitária e política que atravessa. Pela vez primeira, será o país com o maior número de novos requerentes de asilo, com mais de 340.000, em 2018. E estas são as estimativas mais prudentes, porque a realidade poderá ser bem pior. Nos últimos 3 anos já terão saído do país cerca de 4 milhões de pessoas.
Ora, a grande comunidade que temos naquele país é motivo mais do que suficiente para a nossa preocupação. Muitos têm procurado a Região como seu porto seguro para si e para os seus descendentes. Não sendo refugiados no sentido literal do conceito, a verdade é que o fenómeno exige respostas que ultrapassam a simples e corrente gestão de processos de imigração. O Governo Regional tem sido incansável no acolhimento destas pessoas e na procura por soluções criativas. O Governo da República tem estado solidário. É, contudo, necessário mais: é imperioso que a União Europeia equacione a alteração da sua política de financiamento à integração de migrantes. As regras do FAMI - Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração terão de ser reequacionadas visando também a reintegração dos cidadãos europeus.
PS - No domingo, dia 23 de junho, teremos um encontro intercultural, que decorrerá, a partir das 12H00 horas, no Jardim Municipal do Funchal.
Na iniciativa participarão as comunidades africana, venezuelana, russa e ucraniana, estabelecidas na Região Autónoma da Madeira.
Designada de Dia Intercultural, surge no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e para o Desenvolvimento e do Dia de África e resulta na abertura das comunidades à Região que as acolheu, bem como a demonstração do acolhimento que costuma ser dado pelos madeirenses àqueles que vêm de fora.
Se puder, não falte: terá propostas de animação provenientes de diversos países, mostras de arte e de gastronomia. E será mais uma oportunidade para perceber que o diálogo intercultural é sempre a melhor resposta!
* Título de canção de Pedro Abrunhosa
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