COVID-19: MEDO DO MEDO! Opinião | 19/03/2020 08:32
Como qualquer ser humano, estou em pânico com a Covid-19: medo de apanhar o raio do bicho; medo de que a minha filha adoeça e medo de que os demais familiares, especialmente os mais velhos, sejam expostos a esta doença que nos está a transformar a todos.
Mas se tenho medo da doença e tento seguir todos os conselhos quanto aos cuidados que devemos ter individualmente, a verdade é que tenho muito mais medo das consequências que esta crise terá em toda a nossa forma de vida e sobre o nosso futuro.
O medo é sempre mau conselheiro e temo que o pânico venha a ser a pedra angular na definição de políticas, mas também na forma como nos relacionamos uns com os outros e em sociedade. Tenho medo da meta-doença, chamemos-lhe assim.
Tenho muito medo de que o medo leve a purgas e perseguições; tenho medo que o medo nos limite a liberdade e nos viremos para extremismos e autoritarismos. Medo dos egoísmos que levam aos açambarcamentos; medo da indiferença e da falta de solidariedade; medo dos moralismos que determinam que todos nós deveríamos estar encerrados em quartos escuros apavorados e com a vida em suspenso; medo de que a clausura dure demasiado; medo do ódio e da desconfiança relativamente ao Outro; medo da xenofobia que nos pode fazer encerrarmo-nos ainda mais sobre nós próprios; medo da forma como tratamos os turistas, quando eles terão um papel preponderante para sairmos desta crise; medo dos nacionalismos que podem ressurgir em força; medo de que esqueçamos que continuamos a ter milhares de pessoas aprisionadas em campos de refugiados (se a doença lá chega será uma tragédia sem igual); tenho medo que o estado de emergência seja utilizado para limitar o campo de ação dos órgãos das autonomias; medo de que os centralistas ganhem força e musculem o Estado.
Tenho medo das consequências económicas, financeiras e sociais que esta crise inevitavelmente nos trará; medo de que o FMI esteja cá, de novo, dentro de 2 anos.
Este vírus é poderoso, não apenas por ser muito contagioso ou pelo nosso corpo não ter defesas naturais, mas porque as suas consequências perdurarão muito para além da crise epidemiológica e nos marcarão, talvez, até ao fim da vida da maioria de nós.
PS - Deixo aqui uma palavra de apreço pelo trabalho que tem sido desenvolvido pelo Governo Regional e pela liderança firme de Miguel Albuquerque. Os líderes fazem-se e vêem-se nestes momentos. E não é líder quem quer e nem todos têm estofo para líder. Mas deixo também uma palavra de apreço para com Pedro Ramos que, com serenidade, tem sabido lidar com esta crise, mostrando toda a sua competência, fazendo calar todos aqueles que ainda há umas semanas lhe exigiam a cabeça. Não, governar não é o mesmo que escrever umas larachas, mesmo que essas larachas tenham a forma de editoriais. Por último, tenho também gostado de ver a forma como o SESARAM e o IASaúde se têm preparado para enfrentar epidemia da qual, em breve, não nos veremos livres.
PS2 – Uma palavra de conforto, mas também a minha mais profunda preocupação, para com as comunidades madeirenses na Diáspora, especialmente aquelas que se estabeleceram em países com sistemas de saúde frágeis ou mesmo em falência, como é o caso da Venezuela. Espero, sinceramente, que encontremos uma vacina antes que esta pandemia se torne ainda mais global. Porque, se chega com força a alguns países, será, de facto, o “fim do mundo”.
Fiquem bem e em segurança. Não se exponham. Mas também não se esqueçam de viver e não se sintam culpados por ser felizes. Acima de tudo, estejam vigilantes e cuidado com o que desejam: pode vos ser concedido!
https://www.jm-madeira.pt/opinioes/ver/3553/Covid-19__medo_do_medo
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