Dos nossos tempos Se há características que marcam o nosso tempo, a contradição e a incoerência - bem como a hipocrisia, que é o grande vício de ambas - são claramente duas delas. Vemo-las por toda a parte e se ousarmos ser radicalmente verdadeiros, até as encontramos em nós próprios e nas nossas ações. Em boa verdade, isto não é novo: a verdadeira condição do ser humano é o paradoxo. Em cada momento somos sempre outro, pensamos sempre diferente, vemos, ouvimos, sentimos de forma diversa daquela com que o fazíamos ainda um minuto antes. Frequentemente inserimos a contradição em atos, ideias ou afirmações aparentemente sucessivas, de encadeamento lógico. Como característica fundamental que nos institui enquanto homens, o paradoxo tem sido caracterizado e até aclamado por filósofos, poetas e profetas, que destacam essa nossa capacidade de sermos múltiplos: “Eu sou um outro” “o meu nome é legião” são apenas dois exemplos de máximas literárias que exaltam essa dilaceração que nos