VIDAS EM SUSPENSO Opinião | 16/04/2020 08:29


1 - Numa recente entrevista ao Observador, António Costa garantiu que não recorrerá a medidas de austeridade para ultrapassar a grave crise económica que emergirá da crise pandémica que estamos a viver. Ora, Costa, que não é um novato nem é um político inconsciente, sabe que isto não é verdade.
Mais tarde ou mais cedo, as medidas que estão a ser tomadas – e bem! - para evitar mais falências, mais despedimentos e mais crise social, terão de ser pagas. Não há almoços grátis: a estagnação da economia e a contração do PIB – que Mário Centeno admite poder chegar aos 8% mas cujo cenário pode ser bem mais trágico – impor-se-ão à ilusão.
E embora podendo ajudar, também não serão os famigerados “coronabonds” – mutualização da dívida, a nível europeu, com vista à mitigação do impacto económico do novo coronavírus – a salvar-nos. Porque dívida é dívida e terá sempre de ser paga. Seja a que preço for (mesmo que as taxas de juro sejam muito baixas), a verdade é que para um país que tem os níveis de endividamento do nosso, as consequências serão sempre trágicas. E povo irá sofrer. Mais uma vez!
Reconhecendo que não se trata de inexperiência ou ignorância ou até consequência do seu “otimismo irritante, é grave que o Primeiro-ministro não assuma aquilo que será uma inevitabilidade porque ao menos permitiria à sociedade portuguesa preparar-se para o que aí vem. E revela que Costa está mais preocupado com a aparência do que com a transparência. O que nunca é digno para um governante e ainda o é menos num momento com a gravidade daquele que estamos a viver.

2 – Para a Educação, não há outra solução a não ser ensino à distância. E creio que, neste aspecto, as autoridades nacionais e regionais têm tentado acompanhar os acontecimentos. Em muito pouco tempo, procedeu-se a uma autêntica revolução no sistema educativo nacional. Há males que vêm por bem e, à força, as tecnologias de informação impuseram-se ao processo de ensino/aprendizagem. Há muitos anos que venho defendendo que sendo as crianças e jovens do século XXI absolutamente infoincluídas - utilizam regularmente equipamentos informáticos; passam horas a jogar online e nas redes sociais; estão familiarizados com as novas linguagens globais que emergiram – nada justifica que mantenhamos um modelo de ensino obsoleto. Por isso, ainda que, com muitas dificuldades, creio que esta experiência irá revolucionar o ensino e a própria escola do futuro.
A tarefa dos professores é hercúlea, disso não haja dúvidas. Tiveram e têm de fazer em dias aquilo que não foi possível fazer em décadas. Por isso são, talvez, dos profissionais que mais aprenderão com esta pandemia. E que mais alterarão o seu padrão de trabalho. Sei que a maior parte superará este desafio. Mantenho, contudo, a preocupação que tenho tido desde o início: é que se confunda ensino à distância com distribuição de tarefas. Porque, se em vez de serem desenvolvidas estratégias e técnicas de ensino à distância, as estratégias adoptadas se limitarem à visualização de vídeos e à emissão de trabalhos e tarefas, então, estaremos a perder uma oportunidade única. Passar fichas e pedir relatórios e trabalhos não é ensino à distância. Nem é utilizar as tecnologias de informação e comunicação para o processo de ensino/aprendizagem. O desafio que se coloca aos professores é como rentabilizar os computadores, as consolas de jogos, os tablets e os telemóveis, bem como as plataformas como o Zoom, o Tik-Tok, o Youtube e colocá-las ao serviço da aprendizagem dos alunos. Esse é o desafio a superar. E se o desafio é maior para professores, também as escolas e as famílias têm aqui um papel importante a cumprir. Estaremos nós, enquanto sociedade, preparados para o desafio? Veremos, quando deixarmos de ter as nossas vidas em suspenso!

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