Sobre a moralidade e a liberdade
A moralidade hoje não está mais assente na validade universal das suas premissas sendo, pelo contrário uma moral individual. À moral teocêntrica e à moral racional (proposta pelo Iluminismo), manteve-se o substrato conceptual de que o sujeito da ação poderia universalizar as suas máximas. Num caso, por origem e caminho divino, noutro pela crença de que sendo racionais, não seria possível o seu não entendimento e aceitação por parte de qualquer entidade possuidora de razão. Curioso, mas parece-me que os teóricos do libertarismo defendem esta moral universal racional.
Ao primado da moral de origem divina, opõe-se o primado da moral de origem racional e universal.
O problema é que, hoje, pensarmos o dever, como limitação à nossa liberdade, não pode ser feito à luz de uma ou de outra. O individualismo pós-moderno insere várias variantes: queremos uma moral indolor e minimalista, que não nos restrinja o prazer e a liberdade. Um dever prazeroso. Fazemos não porque tem de ser, porque é o moralmente mais acertado, mas porque é o que eu quero fazer e porque isso me dá prazer.
Com este paradigma, é importante percebermos o que dá substrato à ação moral e o que a fundamenta e justifica e como a podemos relacionar com a liberdade e o prazer.
Tenho para mim que é esta dificuldade maior que qualquer movimento libertário poderá encontrar, dado que dois mil
anos de reflexão ainda não chegaram a qualquer conclusão.
A foto é uma passagem d'O Crepúsculo do Dever", de Gilles Lipovetsky
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