Faz frio? Mais varandas e menos lareiras! JM 12-01-24
Esta semana, assisti a uma reportagem onde era abordada a
pobreza energética, nomeadamente por haver uma grande percentagem de
portugueses que continua a passar frio dentro de casa! Na reportagem, foi
referido que Portugal é o 4º país da UE com maior pobreza energética e que 19%
dos portugueses vive sem aquecimento.
Não me sobra qualquer dúvida sobre isto. Sei bem que, em
Portugal, como país temperado (para a realidade europeia), as habitações não
estão preparadas para grandes amplitudes térmicas. Mas não só as habitações: os
serviços, os equipamentos públicos, os edifícios e até os espaços públicos não
estão adaptados. Basta lembrar que, na esmagadora maioria das cidades
portuguesas, as escolas encerram quando neva, por exemplo.
A fonte da informação, para a reportagem, foi um estudo da
Universidade Nova, onde é proposto um Índice de Vulnerabilidade Energética, que
concluiu que são as Regiões Autónomas a apresentar maior vulnerabilidade.
Na reportagem, dava-se a entender que, na Madeira e nos
Açores, as famílias passariam mais frio dentro de casa, proporcionalmente, do
que no continente.
Ora, esta ideia pareceu-me, imediatamente, um disparate
absurdo, vista de que prisma fosse.
Depois de uma troca de ideias numa rede social, fui ler o
estudo. É lá definido que as necessidades energéticas das famílias dependem das
diferenças do nível de rendimento, mas também das condições climatéricas. E aqui
está o busílis não considerado. Mas já lá vamos. É, igualmente, dito que as
Regiões Autónomas são as que concentram a maior percentagem de famílias em
pobreza energética, sendo que no continente, destacam-se o Algarve e o Norte
com maior percentagem de indivíduos sem capacidade para manter a casa aquecida.
Vamos a factos. Há já alguns anos que especialistas vêm
alertando para o nível muito elevado de pobreza energética, que se reflete na
incapacidade de as famílias poderem aquecer as suas casas no inverno ou
arrefecer as suas casas no verão, sendo apresentadas três razões: custo elevado
da energia, rendimentos baixos das famílias e baixo desempenho energético dos
edifícios.
Ora, nenhum destes fatores é exclusivo da Madeira. A
legislação que regula a construção civil é nacional, a ineficiência energética
dos edifícios é transversal, os rendimentos das famílias são baixos na
generalidade e o preço da energia elétrica até é bastante mais baixo na Madeira
do que no continente.
A isto tudo acresce um fator importante: a temperatura média
anual. Na Madeira, ao longo do ano, em geral, a temperatura varia entre 14 °C a
26 °C e raramente é inferior a 12 °C ou superior a 28 °C. Isto dá-nos uma média
de 20º. Não considerar esta amplitude térmica favorável e não a comparar com
outras amplitudes de outras regiões, para calcular o conforto térmico, é sempre
laborar num erro. E se é certo de que temos muitos microclimas e locais mais frios,
também não é menos verdade que a esmagadora maioria da população madeirense vive
em localidades muito temperadas, voltadas a sul. Sim, o Santo da Serra, a
Camacha ou Santana, por exemplo, serão frios. Mas são pequenas localidades
dentro de uma Região. Como existem locais ainda mais frios, nas regiões e
cidades mais frias do país.
Numa ilha onde a esmagadora maioria da população não tem
necessidade de roupa interior, que não diferencia roupa de verão e roupa de
inverno, que pode nadar no mar durante todo o ano, que não usa lençóis
térmicos, que não necessita de usar lareiras, salamandras ou recuperadores de
calor, aquecedores elétricos, a óleo ou a gás, ventiladores, braseiras e outros
que tais, afirmar-se que é onde as famílias mais passam frio é um disparate. Um
disparate monumental, sem qualquer sustentação! Não há tabelas ou gráficos que
possam revelar o contrário. Nem afirmações sensacionalistas.
Sinceramente, na minha opinião, às habitações na Madeira, na
generalidade, não fazem falta lareiras, nem aquecimentos centrais. Fazem falta
é mais varandas, jardins e outros espaços de convívio ao ar livre. Porque o
nosso clima propicia essa vivência. Era isso que deveríamos estar a debater
para as novas construções, em vez que andarmos a falar de tontices!
https://www.jm-madeira.pt/opiniao_cronicas/faz-frio-mais-varandas-menos-lareiras-PF15323826
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