Aqui mandamos nós - 28-06-2024
I – Vários partidos têm condicionado a viabilização do programa de governo,
na Assembleia Legislativa Regional, à saída de Miguel Albuquerque. Que fique
claro: os militantes do PSD primeiro e os madeirenses, depois, escolheram
Albuquerque para Presidente do Governo Regional. E fizeram-no de forma
inequívoca, dando-lhe mais 20.000 do que ao segundo partido mais votado.
Portanto, o que está em causa não é a escolha do Presidente do Governo. Esse já
foi escolhido no dia 26 de maio. O que está em causa é a viabilização de um Programa
de Governo.
Os madeirenses também deixaram claro que o PSD-M deveria negociar e acolher contributos
de outros partidos, para a elaboração do seu programa. Responsavelmente, é isso
que os social-democratas estão a fazer. Resta à oposição assumir as suas
responsabilidades e negociar o que entender, mas não colocar entraves a um
governo que recebeu a sua legitimidade nas urnas. E não me venham com essa
ideia de que existe uma espada sobre a cabeça de Albuquerque, por este ser
arguido num processo porque, como isto está, qualquer um de nós, a qualquer
momento, pode vir a ser constituído suspeito/arguido. Ou vamos fingir que não
sabemos, por exemplo, que há investigações sobre políticos de outros partidos?
Isso retira-lhes alguma legitimidade ou significa, sequer, que tenham uma
espada sobre a sua cabeça? Claro que não! Os direitos civis e políticos de um
qualquer cidadão não ficam diminuídos por haver investigações. Veja-se o que se
passa com António Costa. Decorre um processo onde aparentemente é suspeito, mas
será eleito, na mesma, para Presidente do Conselho Europeu. E o mesmo se passa
com Úrsula von der Leyen, para a Comissão. E querem os cidadãos europeus, os
eurodeputados ou os governos saber disso para alguma coisa?
II – Esta semana, num canal de notícias, um comentador idiota fez a seguinte
afirmação: “Querem autonomia, têm que se dar ao respeito”. Nessa mesma mesa,
estavam mais duas comentadoras, igualmente idiotas, que validaram a afirmação
imbecil, aviltante e ofensiva. Mas essa afirmação é reveladora de um mindset
que medra nos meios políticos e da informação de Lisboa, de que as autonomias atlânticas
portuguesas são concessões da República e – pior – dos portugueses do
continente. Não são! A nossa autonomia é um direito que decorre da nossa
condição periférica e pela qual tantos madeirenses se bateram por mais de um século.
E como não é uma dádiva de uma parte do território, essa parte do território,
os seus meios de comunicação e os seus políticos, nada têm de questionar ou
condicionar essa autonomia. As nossas escolhas políticas, apenas a nós dizem
respeito.
Não haveria grande problema se fossem apenas três palermas a vomitar
imbecilidades preconceituosas e ressabiadas, num qualquer canal de televisão. O
problema é que este mindset colonizou algumas cúpulas partidárias, que julgam
ter o direito de impor os seus ditames a esta Região e ao seu Povo. Meus
senhores, que fique claro que nesta terra mandamos nós. E sejam quais forem as
escolhas políticas que façamos, não é da vossa conta. Engulam e aguentem-se!
Gostaria é que todas as estruturas partidárias regionais assumissem este
posicionamento.
III - Deixo uma pequena nota sobre o adiamento do Fórum Madeira Global e da ausência
de representação do Governo Regional nas inúmeras iniciativas que celebrarão o
Dia da Região, na Diáspora. Para as nossas Comunidades, foram duas péssimas
notícias. No primeiro caso porque o Fórum é o órgão de reunião, de diálogo e de
debate das comunidades madeirenses, com vista à definição da política regional para
o sector. No segundo, porque os madeirenses emigrados reconhecem a importância destas
visitas do governo regional, nomeadamente por manter agregadas as comunidades e
garantir a proximidade entre elas e a Região.
Não foi possível nenhuma das duas porque o governo regional, antes de ter o
seu Programa de Governo aprovado, encontra-se limitado à prática de atos
estritamente necessários para assegurar os negócios públicos. A oposição garante que não há mal nenhum em
não haver um governo em plenitude de funções. A verdade é que há! E quem
conhece a Administração Pública sabe bem disso.
Entretanto, neste caso, saíram prejudicadas as nossas Comunidades espalhadas
pelo mundo, que tanto contribuem para o nosso progresso e desenvolvimento e
tanto vibram com a nossa Autonomia. Estou certo de que essas mesmas comunidades
saberão retribuir na mesma moeda.
Feliz dia da Região!
https://www.jm-madeira.pt/opiniao_cronicas/aqui-mandamos-nos-KB16174358
Comentários
Enviar um comentário