Imigração responsável, coesão garantida - JM - 17_10_2025
Portugal é um país de partidas e de chegadas. A nossa história
está marcada pelo encontro com o Outro e pelo esforço de integração: da nossa,
nos outros países e dos estrangeiros, no nosso. O equilíbrio entre abertura e
coesão é, não raras vezes, precário, razão pela qual torna-se fundamental que
as políticas de imigração sejam rigorosas e objetivas. É por isso que a recente
alteração à Lei dos Estrangeiros deve ser vista como um passo importante para
uma política migratória mais responsável, mais justa e mais realista.
Convém começar por distinguir dois conceitos que
frequentemente aparecem associados: política de imigração e política de asilo.
A primeira regula a entrada e permanência de cidadãos estrangeiros que procuram
oportunidades económicas ou familiares e a segunda protege quem foge de
perseguições, guerras ou catástrofes humanitárias. Misturar estas realidades é
um erro e tem sido uma das causas de debate confuso e emocional em torno do
tema. Aliás, os Juízes do Tribunal Constitucional tendem a relacionar os conceitos,
o que não favorece a objetividade necessária à definição de políticas para cada
uma das áreas.
Portugal precisa de imigração como do pão para a boca! A
demografia não engana: envelhecemos rapidamente e precisamos de trabalhadores
estrangeiros para sustentar setores essenciais. Da agricultura ao turismo, da
construção civil aos cuidados de saúde, do comércio aos serviços de higiene e
limpeza, a nossa sociedade estagnaria sem imigrantes. Mas precisar de imigração
não é o mesmo que aceitar descontrolo. Uma política migratória madura e
responsável tem de conciliar as necessidades económicas do país com a sua
capacidade real de integração e acolhimento, em condições de dignidade e
humanidade.
As novas regras seguem essa lógica. Ao reforçar a exigência de
residência legal efetiva, ao exigir conhecimento da língua e da cultura
portuguesas e ao condicionar a atribuição da nacionalidade à demonstração de
integração e adesão aos valores do Estado de Direito, o legislador não está a
fechar portas, mas a criar portas legítimas, seguras e transparentes.
Durante anos, a legislação portuguesa foi das mais permissivas
da Europa. Essa brecha tornou-se num incentivo perverso à imigração irregular,
alimentando redes de intermediação e até de tráfico de pessoas. Corrigir isso é
proteger tanto o Estado como os próprios imigrantes, que muitas vezes se veem
reféns de falsas promessas e de exploração laboral e até económica.
Também as alterações à Lei da Nacionalidade apontam na direção
certa. A nacionalidade portuguesa é — e deve continuar a ser! — um vínculo
cívico e identitário, não um mero instrumento de mobilidade europeia. Ser
português implica um compromisso cívico e a partilha de uma comunidade de
valores, respeito pelas instituições e domínio da língua. De um ponto de vista
ético, jurídico e político, obter a nacionalidade de um país deve, sim, ser um
processo exigente e rigoroso. A nacionalidade é o vínculo jurídico e simbólico
mais forte entre um indivíduo e um Estado. Confere direitos plenos (participar
politicamente, votar, ser eleito, aceder a cargos públicos, gozar da proteção
diplomática do país) e impõe também deveres (respeito pelas leis, pagamento de
impostos, lealdade à Constituição, entre outros). É uma honra concedida e, por
isso, não deve ser banalizada.
E, ao contrário do que alguns receiam, políticas migratórias e
de nacionalidade equilibradas não alimentam a xenofobia, antes pelo contrário.
Quando o Estado define regras claras, garante integração e combate o abuso,
desarma a retórica do medo e da divisão. É assim que se protege a sociedade de
tensões racistas e se preserva a confiança entre cidadãos, independentemente da
sua origem.
O vazio deixado pelas políticas erráticas socialistas do
passado foi ocupado pelos discursos simplistas e populistas. Partidos como o
Chega exploram esse filão, transformando a desconfiança e a insegurança dos
cidadãos em relação ao Outro em arma política. A resposta a essa demagogia não
é o silêncio nem o extremismo oposto: é a firmeza institucional de uma política
de imigração responsável, transparente e justa. Só um Estado que governa com
regras claras pode desarmar o populismo que vive da perceção de caos e do
ressentimento social.
Portugal deve continuar a ser um país aberto, mas com regras.
Um país capaz de acolher com humanidade, mas sem ingenuidade. A solidariedade
não se mede pelo número de vistos emitidos, mas pela qualidade das condições
oferecidas a quem chega: habitação, emprego, língua, educação. Só assim a
imigração se transforma em integração e não em guetização.
As novas leis não resolvem todos os problemas, mas representam
um sinal importante. A política migratória deixou de ser tratada apenas como um
tema humanitário ou administrativo e passou a ser encarada como uma questão de
Estado ligada à economia, à segurança e à coesão nacional. Essa mudança de
paradigma é fundamental.
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