QUATRO PENSAMENTOS ANTES DO TRÍDUO PASCAL Opinião | 18/04/2019 08:09
I
Já exerci diversas profissões e nunca fui sindicalizado. Foi uma opção que decorreu da consciência de que o movimento sindical estava capturado pelo PCP, via CGTP, e pelo PS, via UGT. Recentemente começaram a surgir diversas entidades sindicais, no espectro das lutas laborais, que não só não se deixaram capturar como ainda surpreendem essas próprias centrais sindicais. A esquerda não gosta, porque são movimentos “orgânicos” que lhes escapam. Não obstante, os trabalhadores parecem identificar-se mais com estas entidades, a crer na adesão às suas iniciativas. Deveríamos todos refletir um pouco sobre isto, porque as lutas sindicais e interclassistas podem estar a sofrer uma evolução relevante com repercussões futuras ainda imprevisíveis.
Como deveríamos ainda refletir sobre a aparente incapacidade do governo de António Costa em lidar com as greves: foram os enfermeiros, são os professores, foram os estivadores e os funcionários da AutoEuropa e agora são os motoristas de substâncias perigosas. De facto, nunca vi um governo que lide tão mal com o direito à greve.
Sobre a greve dos motoristas, em concreto, apenas duas notas e uma conclusão: um salário bruto de 600,00€ é miserável, tal como é miserável um país que entra em crise energética após apenas dois dias de greve, de 800 motoristas. A conclusão óbvia é que sectores estratégicos do Estado não podem estar exclusivamente nas mãos de privados. Aconteceu com a distribuição de combustíveis, poderia acontecer a qualquer momento com a distribuição elétrica. Com a agravante de, neste caso, a produção e a distribuição estarem nas mãos de um Estado Estrangeiro.
II
Após o disparate de Rui Rio, em que sugeria que a eurodeputada madeirense Cláudia Aguiar deveria representar as duas regiões autónomas portuguesas, os socialistas madeirenses iniciaram uma espécie de storytelling anunciando que a Madeira apenas teria meia eurodeputada. O que não perceberam é que a Cláudia Aguiar é tão boa eurodeputada que chega bem para duas Regiões Ultraperiféricas enquanto que a sua candidata nem para uma Região parece servir, a crer na quantidade de disparates que profere.
III
No dia 27 de maio, será apresentado o documentário “Portuguese in Hawaii”, realizado por Nelson Ponta-Garça, que relata a história da comunidade portuguesa e lusodescendente naquelas ilhas do Pacífico. Ainda não vi o filme, mas estou certo que nos contará a incrível epopeia dos madeirenses e açorianos que foram trabalhar para as plantações de cana-de-açúcar, no século XIX. Tal como nos contará ainda a mais incrível história dos pastores protestantes de origem madeirense do Ilinóis, cujos antepassados, anos antes, se viram forçados a sair da Madeira devido às perseguições de que o seu líder, o presbiteriano Robert Kalley, foi alvo. Uma estreia a não perder, que, em boa hora, foi agendada para o Centro Cultural John dos Passos, outro iminente americano (um dos maiores vultos da literatura norte-americana, no século XX), descendente de madeirenses.
IV
Na sua mensagem para esta Quaresma, o Papa Francisco lembra-nos que “a celebração do Tríduo Pascal (…) chama-nos sempre a viver o itinerário de preparação, cientes de que tornar-nos semelhantes a Cristo é um dom inestimável da misericórdia de Deus”. Individualmente, que todos nós saibamos viver de acordo com a mensagem que Cristo nos legou. E resta um agradecimento especial à Igreja Portuguesa, que soube entender o que é ser semelhante a Cristo e, assim, dirigiu a Renúncia Quaresmal para apoiar o povo venezuelano, que passa por tantas privações. Enquanto uns falam e prometem e outros ocultam e branqueiam, a Igreja assume-se como farol da práxis ética e age em benefício de todos aqueles que, naquele país, tanto padecem.
Os meus pensamentos nesta Páscoa estão com todos os que vivem na Venezuela: uns porque são madeirenses e seus descendentes; outros, porque tão bem souberam receber os nossos irmãos que ali procuraram ser felizes!
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