Sobre lideranças
Miguel Filipe é o CEO de uma multinacional que emprega milhares de funcionários. É um dirigente que se empenha no exercício da sua profissão, dedicando à empresa 12, 14, 16 horas diárias. Frequentemente não pode gozar fins-de-semana porque tem de reunir com dirigentes locais, visitar filiais, reunir com os trabalhadores e participar em ações de formação e de team building. Sabe que os maiores ativos são os seus trabalhadores e por isso investe neles e nas boas relações humanas.
No seu trabalho, fez-se rodear por uma equipa de administradores especialistas em cada um dos sectores de atividade da empresa, o que lhe permite dedicar-se à orientação geral e a atividades prospetivas. Confia na equipa que escolheu e por isso delega, sem necessidade de controlar todo o funcionamento da organização.
Miguel Filipe é um homem casado, pai extremoso de duas crianças menores: uma com 3 e outra com 8 anos. Apesar do amor e carinho que dedica aos filhos, tem noção de que sofrem com as suas frequentes ausências. Sabe da tristeza dos filhos por não poderem passar mais tempo com o pai; conhece e reconhece o empenho e a abnegação da esposa; sofre quando não está presente em cada uma das conquistas dos filhos ou por não poder dedicar mais tempo às brincadeiras com eles. Por isso, sempre que pode, tenta compensar a família.
Na Páscoa, agendou uma viagem com esposa e filhos, para outro lado do mundo, para que pudesse estar em tranquilidade com a família, dedicando-lhes o tempo e o prazer da presença que o seu trabalho tantas vezes lhes nega. Os filhos ficaram radiantes.
Na noite em que partiu, uma das fábricas da empresa teve um grave acidente, causando danos materiais e algumas vítimas. Miguel Filipe foi informado disso assim que aterrou. Também o informaram que o Gabinete de Crise que havia idealizado estava a funcionar em pleno e que os procedimentos estavam a garantir uma correta gestão da crise. Conforme o que está protocolado, o seu número 2 assumiu a gestão do gabinete, sempre em articulação direta consigo.
Pensou em regressar imediatamente. Era difícil estar longe da equipa num momento tão crítico. Mas sabia que o separava da empresa 10 horas de voo. Para além da desilusão que provocaria, as próprias crianças necessitavam de descansar, antes de iniciar a viagem de regresso. Afinal, foram demasiadas horas para crianças tão pequenas. Estavam cansadas e necessitavam de repouso.
Por outro lado, também sabia que não podia abandonar a esposa e os seus dois filhos, de tão tenra idade, num país estrangeiro. Não era justo e acima de tudo não se adequaria à sua forma de estar na vida: a família é a célula mais importante da sociedade. Não se pode ser bom gestor, bom homem, boa pessoa se não se for um bom pai de família.
Não havia escolhas fáceis, mas manteve a decisão de não abandonar esposa e filhos. Afinal, poderia gerir grande parte dos problemas à distância e confiava nas capacidades da equipa.
Estabelecia diversos contactos diretos diários não apenas com o seu número 2, mas ainda com diversos outros administradores bem como com diversos outros stakeholders.
Tudo o que era possível fazer, foi feito. O socorro foi prestado de forma irrepreensível; as vítimas estavam todas a receber os melhores cuidados; as atividades de damage control tinham sido iniciadas.
Ainda assim, não se sentia bem por estar distante e antecipou o regresso. Também já tinha passado algum tempo com a esposa e os filhos. Não o suficiente para os compensar; não o bastante para serenar o seu coração por todas as ausências passadas; não a necessário para os filhos. Ainda assim, tinha passado algum tempo e a família percebia a sua ansiedade. Pelo menos enquanto estivesse com este compromisso para com a sua empresa, a família teria de sofrer com isso. E, assim, regressou mais cedo do que estava previsto. Na viagem de regresso, explicou aos filhos que outras pessoas também dependiam de si. E que apesar de os amar acima de tudo, a sua ética profissional exigia a sua presença.
E, assim, regressou apenas 5 dias após ter partido, não para gerir o caos que nunca houve, mas tão só para reerguer a empresa que tem por missão governar.
Esta história é uma mera ficção mal engendrada por mim (porque de facto não tenho jeito para a ficção, perdoem-me aqueles que me lerem). Mas creio que dá para perceber que o CEO da empresa, num momento de crise, tentou conciliar o que era razoável com o que era possível. Sem existir escolhas simples, conseguiu o equilíbrio necessário entre as suas responsabilidades para com a família e as para com a empresa. Numa situação em que o ideal estava ausente, conseguiu o que era razoável. Foi um líder, foi o líder que a empresa precisava, mas também foi o homem, o marido e o pai que a sua família exigia.
Esteve à altura da situação e creio que todos estamos de acordo sobre isso.
Imagine agora que o CEO chamava-se Miguel Filipe Machado de Albuquerque e era Presidente do Governo Regional da Madeira. Porque esta parece-me uma analogia correta com a tragédia que se abateu na semana passada.
Creio que o Presidente, tal como todo o seu governo, esteve bem em lidar com toda a situação. Mais não lhes pode ser humanamente exigido. Tudo o resto é demagogia e populismo!
No seu trabalho, fez-se rodear por uma equipa de administradores especialistas em cada um dos sectores de atividade da empresa, o que lhe permite dedicar-se à orientação geral e a atividades prospetivas. Confia na equipa que escolheu e por isso delega, sem necessidade de controlar todo o funcionamento da organização.
Miguel Filipe é um homem casado, pai extremoso de duas crianças menores: uma com 3 e outra com 8 anos. Apesar do amor e carinho que dedica aos filhos, tem noção de que sofrem com as suas frequentes ausências. Sabe da tristeza dos filhos por não poderem passar mais tempo com o pai; conhece e reconhece o empenho e a abnegação da esposa; sofre quando não está presente em cada uma das conquistas dos filhos ou por não poder dedicar mais tempo às brincadeiras com eles. Por isso, sempre que pode, tenta compensar a família.
Na Páscoa, agendou uma viagem com esposa e filhos, para outro lado do mundo, para que pudesse estar em tranquilidade com a família, dedicando-lhes o tempo e o prazer da presença que o seu trabalho tantas vezes lhes nega. Os filhos ficaram radiantes.
Na noite em que partiu, uma das fábricas da empresa teve um grave acidente, causando danos materiais e algumas vítimas. Miguel Filipe foi informado disso assim que aterrou. Também o informaram que o Gabinete de Crise que havia idealizado estava a funcionar em pleno e que os procedimentos estavam a garantir uma correta gestão da crise. Conforme o que está protocolado, o seu número 2 assumiu a gestão do gabinete, sempre em articulação direta consigo.
Pensou em regressar imediatamente. Era difícil estar longe da equipa num momento tão crítico. Mas sabia que o separava da empresa 10 horas de voo. Para além da desilusão que provocaria, as próprias crianças necessitavam de descansar, antes de iniciar a viagem de regresso. Afinal, foram demasiadas horas para crianças tão pequenas. Estavam cansadas e necessitavam de repouso.
Por outro lado, também sabia que não podia abandonar a esposa e os seus dois filhos, de tão tenra idade, num país estrangeiro. Não era justo e acima de tudo não se adequaria à sua forma de estar na vida: a família é a célula mais importante da sociedade. Não se pode ser bom gestor, bom homem, boa pessoa se não se for um bom pai de família.
Não havia escolhas fáceis, mas manteve a decisão de não abandonar esposa e filhos. Afinal, poderia gerir grande parte dos problemas à distância e confiava nas capacidades da equipa.
Estabelecia diversos contactos diretos diários não apenas com o seu número 2, mas ainda com diversos outros administradores bem como com diversos outros stakeholders.
Tudo o que era possível fazer, foi feito. O socorro foi prestado de forma irrepreensível; as vítimas estavam todas a receber os melhores cuidados; as atividades de damage control tinham sido iniciadas.
Ainda assim, não se sentia bem por estar distante e antecipou o regresso. Também já tinha passado algum tempo com a esposa e os filhos. Não o suficiente para os compensar; não o bastante para serenar o seu coração por todas as ausências passadas; não a necessário para os filhos. Ainda assim, tinha passado algum tempo e a família percebia a sua ansiedade. Pelo menos enquanto estivesse com este compromisso para com a sua empresa, a família teria de sofrer com isso. E, assim, regressou mais cedo do que estava previsto. Na viagem de regresso, explicou aos filhos que outras pessoas também dependiam de si. E que apesar de os amar acima de tudo, a sua ética profissional exigia a sua presença.
E, assim, regressou apenas 5 dias após ter partido, não para gerir o caos que nunca houve, mas tão só para reerguer a empresa que tem por missão governar.
Esta história é uma mera ficção mal engendrada por mim (porque de facto não tenho jeito para a ficção, perdoem-me aqueles que me lerem). Mas creio que dá para perceber que o CEO da empresa, num momento de crise, tentou conciliar o que era razoável com o que era possível. Sem existir escolhas simples, conseguiu o equilíbrio necessário entre as suas responsabilidades para com a família e as para com a empresa. Numa situação em que o ideal estava ausente, conseguiu o que era razoável. Foi um líder, foi o líder que a empresa precisava, mas também foi o homem, o marido e o pai que a sua família exigia.
Esteve à altura da situação e creio que todos estamos de acordo sobre isso.
Imagine agora que o CEO chamava-se Miguel Filipe Machado de Albuquerque e era Presidente do Governo Regional da Madeira. Porque esta parece-me uma analogia correta com a tragédia que se abateu na semana passada.
Creio que o Presidente, tal como todo o seu governo, esteve bem em lidar com toda a situação. Mais não lhes pode ser humanamente exigido. Tudo o resto é demagogia e populismo!
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