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COVID-19 E GOVERNOS Opinião | 30/10/2020 08:30

 Qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível

Lei de Murphy



Ontem, pela primeira vez, ultrapassou-se em Portugal a barreira dos 4 mil infetados, em 24 horas, pela Covid-19. Foi o derradeiro indicador de que a 2ª vaga está aí e veio em força.

Após o breve interstício veranil, o raio do vírus voltou para nos infernizar a vida e ensombrar ainda mais o futuro. Tememos pela robustez do Sistema Nacional de Saúde e pela sua (in)capacidade de resposta a uma crise intensa, mas tememos também pelo futuro da economia, cada vez mais tenebroso, que pode provocar mais vítimas do que a própria doença.

Como institucionalista, naquela que é a maior crise sanitária das nossas vidas, entendo que devemos reservar as nossas opiniões e agir de acordo com as orientações das instituições. Não há espaço de manobra para cada um fazer como entende ou agir de acordo com a sua “liberdade” ou a sua “consciência”. O tempo é de cerrar fileiras e agir de acordo com aquilo que são as orientações das instituições.

No combate às pandemias e na defesa da saúde pública, a ação política também não pode estar sujeita ou refém da opinião pública ou de elites, sejam elas de que tipo forem. O combate tem de ser firme e, pelo menos, moderadamente informado. E quando o conhecimento é insipiente, como acontece nesta crise, a ação política deve assentar ainda mais na prevenção. Nestas coisas, é melhor pecar por excesso do que por defeito.

A nível nacional, já percebemos que o combate vai tergiversando de acordo com as pressões exercidas sobre o Governo socialista: Páscoa não, 25 de abril e 1º de Maio sim; 13 de maio não; espetáculo de Bruno Nogueira sim – o humorista do Regime que, ainda em maio, contou com a honrosa presença de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, no seu “Deixem o pimba em paz”; visitas a lares não, touradas sim; missas não, festa do Avante sim; dia dos defuntos, não, Grande Prémio de Fórmula 1 sim.

Ora, é verdade que esta segunda vaga está a chegar a todos os países da União Europeia. Mas também é verdade que esta política ziguezagueante não concorre para o seu combate, antes pelo contrário: é facilitadora do contágio. É, portanto, sem surpresa que vejo o aumento exponencial do número de infetados no nosso país. Creio mesmo que era inevitável e temo que a situação se vá agravar ainda mais nos próximos dias. Porque para além de todos os riscos e da complexidade que gira em torno de um combate a uma pandemia absolutamente excecional e imprevista, a verdade é que o Governo da República mostrou que não estava à altura da situação. Perante a maior crise de saúde de sempre, calhou-nos em sorte o mais impreparado governo de sempre. E como a Lei de Murphy, tal como a lógica, não é uma batata, não bastava o raio do bicho, ainda tivemos de levar em cima com o triste fado lusitano.

Na Região, a estratégia de combate passou por impor, desde cedo, medidas preventivas muito assertivas e impopulares. A última delas foi a imposição do uso da máscara no exterior, ainda em agosto. Lembramo-nos do coro de críticas e não sou eu que irei defender ou atacar a sua eficácia no combate ao vírus. O que sei é que continuamos, na Região, com a mais baixa taxa de contágio local, ao nível nacional e sem doentes graves, o que liberta o Serviço Regional de Saúde e permite que tenhamos alguma atividade mais ou menos normal, no comércio, nos serviços, nas escolas. Enfim, que possamos continuar nas nossas vidas. E isto, nos tempos que correm, em que progressivamente vemos os países europeus a entrar de novo em confinamento, não é pouco. Não me atrevo a garantir que estes “bons resultados” que temos na Madeira, no que à Covid-19 diz respeito, se devem exclusivamente à ação do Governo Regional e às medidas de prevenção adotadas. Mas como nos ensinou o adágio popular: é melhor prevenir do que remediar. Por isso, esteve muito bem o Governo Regional ao adotar uma atitude proativa sempre que isso foi possível.

Não vai ficar tudo bem. Ter um governo sem medo de tomar decisões é, todavia, retemperador e é meio caminho para a recuperação!

 

PS – Este texto foi escrito ainda sem ter conhecido as medidas aprovadas no Conselho de Governo de 29 de outubro.

https://www.jm-madeira.pt/opinioes/ver/4363/Covid-19_e_governos


 

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