PERCEÇÃO E REALIDADE Opinião | 09/04/2021 08:03

 


O professor Carlos Jalali, director do departamento de Ciência Política da Universidade de Aveiro, em 2019, deu uma entrevista ao Público onde afirmou que “o que vemos no debate público hoje em dia é que os referenciais comuns, que nos permitiram juntar as diferentes perceções e tentar olhar para a complexidade do problema, estão a desaparecer. Está a desaparecer a complexidade e a perceção é cada vez mais dicotómica, simplista”.

De facto, parece que a perceção cada vez mais se sobrepõe à realidade, entendida como multiplicidade de perceções individualizadas, devidamente agregadas e consensualizadas. Pelo contrário, a simplificação, a opinião desinformada, não sujeita a contraditório, ganha cada vez mais terreno. Uma das principais causas é o acesso direto a factos, sem a mediação dos órgãos de comunicação social tradicionais. O “cidadão-jornalista” faz emergir o “cidadão-ignorante”, mas desta feita um “cidadão-ignorante-atrevido”, que julga saber e que se coloca ao mesmo nível que os especialistas. Vê-se agora com a questão das vacinas, mas também se viu com as receitas milagrosas para a pandemia e, de resto, sobre todos os demais assuntos que enformam a nossa realidade.

Vem isto a propósito de dois “eventos” que ocorreram esta semana: o estudo de opinião sobre as principais figuras políticas da Madeira, publicadas neste jornal, e a persistência na opinião ignorante por parte de alguns, sobre as intervenções que foram feitas nas ribeiras do Funchal.

Passamos pelas redes sociais, onde uma plêiade de agitadores contratados e outros assalariados fazem o seu campo de batalha e ficamos com a perceção de que os governantes e autarcas do PSD são todos uns incapazes e corruptos; de que o Sistema de Saúde e o Sistema Educativo, principais sorvedouros do orçamento regional, estão em falência, ou que as decisões estão todas erradas. Essa é a perceção com que ficamos se andarmos pelas redes sociais. Ora, vem este estudo de opinião, que nos dá um olhar fugaz da realidade e percebemos que, afinal, a população reconhece e valoriza o enorme trabalho que tem sido feito por Pedro Ramos e pela sua equipa. E não é apenas pelo excelente desempenho no combate à pandemia, é pelas reformas ao nível de funcionamento do sistema que implementou e que se refletem na qualidade do serviço prestado, reconhecido pela população. Pedro Ramos é, de facto, o homem certo, no lugar certo, à hora certa. Percebe-se também que a população valoriza o estilo intrépido com que Miguel Albuquerque tem enfrentado esta pandemia, não temendo decidir, por mais impopulares que sejam as medidas. Ou como os madeirenses percebem o trabalho notável que tem sido feito por Jorge Carvalho à frente da Secretaria de Educação (ainda ontem vimos isso, em mais um debate mensal), com a pacificação do setor – agora, até parece que o início do ano letivo é apenas mais uma etapa, quando até há poucos anos, este era um período caótico para alunos, famílias, docentes e auxiliares -, ou também com as imensas inovações com vista à melhoria da qualificação da nossa população e do sucesso educativo das nossas crianças e jovens.

Perante a perceção, impôs-se, esta semana, um vislumbre de realidade.

Também esta semana voltámos a assistir ao histerismo de alguns contra as intervenções feitas nas ribeiras do Funchal, na sequência do elogio feito por Pedro Calado, que reconheceu o óbvio: elevaram a segurança da cidade, ao aumentar a secção de vazão e a sua velocidade e ao evitar a deslocação de detritos, ribeiras abaixo. Perante a realidade evidenciada pelo Vice-Presidente, ressurgiram algumas vozes que teimam na sua perceção e insistem no atrevimento da sua ignorância. As intervenções foram estudadas e projetadas por pessoas como Betâmio de Almeida, professor catedrático da Universidade de Lisboa/Instituto Superior Técnico e Sousa Cruz, doutorado em Engenharia pela Universidade da Catalunha, e materializadas por um exército de outros profissionais qualificados, que nos garantiam que as intervenções protegeriam as populações e aumentariam o nível da resiliência da capital. Mas o que significava isso, perante a gritaria dos especialistas de Facebook? O que significa o conhecimento de facto, a realidade, perante a perceção histérica?

Estes são apenas dois exemplos que ilustram bem o pensamento de Jalali. Hoje, berramos demais as perceções e debate-se de menos a realidade. Há quem tenha lido um livro – ou não tenha lido nenhum! – e julgue ser possuidor do mesmo nível de conhecimento de um doutor. Isto, como se sabe é a base dos populismos e terreno fértil para a sua propagação. Todavia, ainda há esperança. Afinal, o povo não é imbecil quanto alguns o julgam e consegue diferenciar o trigo do joio. Mesmo que muitos agentes públicos insistam em atirar areia para os olhos!

https://www.jm-madeira.pt/opinioes/ver/4857/Percecao_e_realidade

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