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A mostrar mensagens de 2014

As instituições do passado não são boas por serem antigas, mas são antigas por serem boas*

O que significa, para mim, ser conservador no Séc. XXI? Não há uma resposta simples, óbvia a inequívoca a esta pergunta. Vamos a alguns pontos prévios. As ideologias são espectros dos quais quase todos nós partilhamos. Alguns mais do que outros e nalguns casos mais do que noutros. Porque todas as ideologias têm premissas (chamemos-lhes assim) universais que ninguém recusará e porque todas elas padecerão de vícios que dificilmente serão aceites por todos. Ora, eu, como qualquer outro, também perfilho várias ideias de outras doutrinas ideológicas, não me considerando, de todo, um conservador “puro”. Por outro lado, não estão traçados com rigor os limites de cada uma das ideologias. Onde termina o Comunismo e começa o Socialismo? Qual a fronteira entre o Socialismo e a Social-Democracia? Mais, as próprias ideologias também não são imutáveis: vão-se ajustando aos contextos sociais, culturais, económicos, geográficos, temporais e políticos. Mantendo premissas-base, as ideologias hoje não sã

7-38-55

Fala o velho. Já te amava, quando me alertaste para não me apaixonar por ti. Por isso não te perdoo o atraso no alerta. Deverias ter-me avisado que te entregavas por metade e que era isso que exigias aos outros. Fala ela. A decrepitude não te permitiu perceber que um corpo ama no momento em que é amado. Depois, volta unicamente a amar-se. Ao contrário do que pensas, as estrelas não se agregam. Afastam-se eternamente. Fala o velho. Tens razão. A senilidade é a minha condição de ser. E tu sempre foste demasiado moderna. Mas também sei que és bondosa. Fala ela. De novo a técnica do espelhamento? Não vês que já não há mimetismo entre nós? Sei demasiado. Posso berrar e os teus sussurros graves já não me acalmam. E sinto prazer em saber que não saciarei a excitação que a minha voz aguda te provoca. Fala o velho. Mas se a palavra mente e por isso a banalizas, sabes bem que o rosto é verdadeiro. Fala ela. O rosto é o maior mentiroso social. O que diz não é verdade. Aind

Memórias de um homem velho

Haviam-lhe dito que vivia assombrado. Que os corpos caídos são memórias guardadas, sem que sequer perceba os fios que foi tecendo ao longo da vida. Tinham-lhe dito que o importante, neste percurso que inexoravelmente o conduz à imortalidade, é quantidade de cadáveres que consegue preservar: porque os outros regressam e não o abandonam! Acompanham-no com a única finalidade de lhe acizentar o olhar. Querem entristecer as mãos que não os souberam ou quiseram proteger. São constantes, sombras permanentes que lhe enrugam a alma. Recomendavam-lhe cautela, para não se deixar intimidar pelos mortos sem que, contudo, deixasse de estar atento aos espíritos que o seguiam. Porque nem todos lhe desejariam bem. Contudo, foi naquela manhã que percebeu que afinal era ele que assombrava os seus mortos. Que os perseguia porque assim se penitenciava. A assombração era a água que o purificava de todas as palavras malditas do passado. As almas exigem que os liberte, mas ele não o pode fazer. As pa

A cidade e o espaço urbano são coincidentes?

A cidade e o espaço urbano são coincidentes? Segundo Henri Lefebvre, no seu «O direito à cidade», não. Por cidade, entende o espaço físico e por urbano entende o intangível, a potência. Podem convergir, criando o "espaço público", mas não são coincidentes. Bauman descrevia-os como o mundo sólido vs mundo líquido, coexistindo no espaço público. Sinceramente, cada vez mais me convenço que cidade e espaço urbano não apenas não são coincidentes como estão, progressivamente a afastar-se. Cada vez mais os cidadãos têm menos direito à cidade, menos capacidade de intervenção sobre ela, havendo, de forma aparentemente paradoxal, naturais e desejáveis movimentos de (re)apropriação do espaço urbano, por parte daqueles que habitam a cidade. Explicito: hoje, o destino das cidades é mais decidido nos centros nefrálgicos do poder económico, por parte de atores que não habitam a cidade e menos por aqueles que as cruzam diariamente. Quando o CEO de uma grande empresa toma, a partir de,

A aceleração do tempo

Que o universo está em expansão, já o sabemos desde as observações de Hubble sobre o afastamento progressivo de todos objetos cósmicos. Este físico mostrou que o universo não era estático e que a sua expansão decorria a uma velocidade constante. Esta foi uma grande descoberta na medida em que se julgava que devido à gravidade (força mais poderosa do universo, capaz de dobrar a própria energia) o universo poderia estar a contrair. Isto porque progressivamente a gravidade gerada pela matéria que foi sendo produzida no cosmos anularia a energia da expansão. Contudo, observações recentes de supernovas (investigadores foram premiados com o Nobel) demonstram que a velocidade de expansão está a acelerar, de modo aparentemente paradoxal, uma vez que, por um lado, desde o Big Bang tem havido dispersão de energia e por outro, a atração gravitacional estaria a travar essa expansão. Ora, se as hipóteses mais plausíveis para o fim do universo, seriam ou o Big Freeze (congelamento - devido

Três anos*

Há três anos entraste na minha vida. Impuseste-te em casa e fora dela, desde há três anos. Há três anos olhaste para mim pela primeira vez. Vivo suspenso nesse teu olhar, há já três anos. Há três anos chegaste com um choro vigoroso, que marcava bem uma forma de viver. Exiges uma dimensão só tua e sequestraste-me para ti, há três anos. Há três anos que és senhora das minhas mãos, dona dos meus sonhos. Uma semi-deusa pagã; uma querubim do Céu católico, desde há três anos. Há três anos que me pedes colo, que não te nego – nunca! Os meus braços são para ti e apenas servem para te abraçar, há já três anos. Há três anos que me matas a sede. Bebo-te às golfadas, com a alma sequiosa de ti, há três anos. Há três anos nasceste. Fizeste-me renascer, para em ti viver novamente, há três anos! Parabéns, filha, pelos teus 3 anos. * Escrito no dia 12 de outubro de 2013.