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Raríssimas vezes assistimos a tanta indecência

Opinião | 15/12/2017 08:03 Dezembro é o mês da Festa, da celebração do amor, da alegria, da família. Mas este dezembro de 2017 foi também o mês em que fomos confrontados com algumas das piores indecências que proliferam na sociedade portuguesa. Descobrimos uma igreja - que se diz universal – que a partir de um lar que alojou várias crianças roubadas às mães, dinamizou uma rede internacional de adoções ilegais para os seus membros. Foi o mês em que assistimos ao vivo um jovem atirar um sem-abrigo para dentro de um caixote do lixo, na Amadora. Em que tomámos conhecimento da triste notícia de três jovens que agrediram, gratuitamente, um sem-abrigo, no Funchal. Foi o mês em que descobrimos a história macabra de uma dirigente que roubava a crianças doentes para financiar os seus luxos pessoais. De facto, a história da Raríssimas é, tragicamente, uma história demasiado comum em Portugal. Talvez sintomática do que se passa no país, do nosso miserável fado: a história de co

Entre Rio e Santana: a escolha programática

Opinião | 10/12/2017 04:00 No dia 13 de janeiro, o PSD vai a votos e os militantes terão de escolher entre Pedro Santana Lopes e Rui Rio para líder do partido. Ambos são dirigentes históricos, experientes e com provas dadas. Possuem currículos relevantes ao nível profissional e político, tendo passado por funções executivas que, na generalidade e muito especialmente nas experiências autárquicas, deixaram a marca de bom trabalho e saudade nas populações que serviram. São ambos carismáticos, bons comunicadores, de verbo fácil e acutilante, com estilos assertivos de liderança, competentes para fazerem oposição e aparentemente preparados para a governação. Com esta introdução, percebeu já o caro leitor que, na minha opinião, não será pelo carácter do candidato que se decidirá estas eleições. Pelo menos na Madeira. E se não é pelo carácter, os eleitores madeirenses tão pouco serão influenciados pelo conhecimento dos dossiers importantes para a Madeira ou pelos compromiss

Da absurda semelhança dos partidos do sistema

Opinião | 24/11/2017 Não sou um grande leitor de Saramago: li apenas 4 ou 5 livros do autor. Mas a mulher que me acompanha há 20 anos é. E, há dias, numa conversa sobre algumas das consequências advindas do resultado das eleições autárquicas, falou-me do “Ensaio sobre a Lucidez”, do nobel português. Genericamente, o livro versa sobre os efeitos que decorrem de uma massiva votação em branco. Se a esmagadora maioria dos eleitores votasse em branco, o que é que isso significaria? Seria uma manifestação de lucidez do povo, cujo nível de exigência o leva a rejeitar todas as propostas eleitorais que lhe são apresentadas? Ou, por outro lado, apenas revela o seu alheamento? Seja como for, nem é esta dimensão que me interessa abordar. O que me parece interessante é o aparente vazio de poder que daqui decorre. Se nenhuma força política tem legitimidade para governar, não estarão todas elas condenadas ao entendimento, de forma a viabilizar um governo composto por todos? Ora, ne

Estudos de opinião em política: ferramentas de diagnóstico ou de criação de opinião? JM: 02/11/17

Li, aqui há um par de anos, umas declarações de um sociólogo que atribuía o falhanço das sondagens, nas eleições legislativas britânicas, ao receio das pessoas parecerem politicamente incorretas. A tese defendia que as pessoas estão demasiado condicionadas pelo pensamento mainstream e temem que as suas opiniões contribuam para as catalogar como intolerantes, antiquadas, radicais, desajustadas, injustas, ingénuas, pouco inteligentes e/ou desinformadas. De acordo com a teoria, os cidadãos promovem a autocensura, intuindo que há coisas que não podem ser ditas. Posto isto, quando inquiridas pelas empresas de sondagens, as pessoas, com receio da estigmatização, dizem aquilo que consideram ser o que de si esperam e não aquilo que realmente pensam ou sentem. Nesse artigo, chamava-se a atenção para a aparente “espiral do silêncio” (teoria de Elisabeth Noelle-Neumann), de acordo com a qual as pessoas deixam-se modificar pela perceção que têm sobre aquilo que maioria pensa. Com receio de algum i

Voto dos emigrantes nas eleições regionais: um direito da “nona ilha” Opinião | 05/10/2017 JM

O direito ao voto para as eleições legislativas regionais é uma aspiração tão antiga quanto legítima e justa dos nossos emigrantes espalhados pelo mundo. Em agosto passado, teve lugar a primeira reunião do Conselho da Diáspora Madeirense – órgão consultivo do Governo Regional que integra 21 representantes, provenientes das principais e mais relevantes comunidades madeirenses espalhadas pelo mundo. Dessa reunião emanou um conjunto de conclusões importantes para a definição de políticas, quer por parte dos órgãos regionais, quer por parte da República Portuguesa. Dessas, a mais importante recomendação política terá sido a 6ª, em que foi considerado que “(…) fiel ao espírito dos princípios constitucionais que consagraram a Autonomia Político-Administrativa da Madeira, deve ser conferida aos Madeirenses que aprofundam a Região no Mundo, o direito ao voto nas eleições legislativas regionais”. Mais acrescentou que numa comunidade que é apresentada simbolicamente como a que a “nona ilha”, é

Parabéns, minha filha!

Nasceu-te um(a) Filho(a) Nasceu-te um filho. Não conhecerás,  jamais, a extrema solidão da vida.  Se a não chegaste a conhecer, se a vida  ta não mostrou - já não conhecerás  a dor terrível de a saber escondida  até no puro amor. E esquecerás,  se alguma vez adivinhaste a paz  traiçoeira de estar só, a pressentida,  leve e distante imagem que ilumina  uma paisagem mais distante ainda.  Já nenhum astro te será fatal.  E quando a Sorte julgue que domina,  ou mesmo a Morte, se a alegria finda  - ri-te de ambas, que um(a) filh(a) é imortal.  Jorge de Sena, in 'Visão Perpétua'  

7!

7! É o número da perfeição 7! Representa a totalidade cíclica 7! É o número de virtudes humanas 7! Simboliza a renovação 7! São os graus da perfeição 7! Hierarquias angelicais 7! As pétalas das rosas 7! As esferas celestes 7! Dia de descanso de Deus 7! O coroamento da criação 7! O número de anos quem animas a minha vida. Neste dia em que fazes 7 anos, desejo-te, minha querida filha, as sete virtudes humanas: que sejas rica em esperança; que tenhas força para ultrapassar as dificuldades; que sejas prudente nas tuas atitudes; que tenhas amor que te ilumine a vida; que sejas justa e que o mundo seja justo contigo; que tenhas a temperança necessária ao equilíbrio; e que sejas uma mulher de fé. Mas se te desejo as virtudes humanas, não posso deixar de te desejar as 7 virtudes divinas: que sejas casta enquanto e quando quiseres; que tenhas a generosidade no coração para ajudar quem necessita; que sejas moderada nos desejos e nas ações; que f

Parabéns, filha!

Vendo-a Sorrir (A minha filha) Filha, quando sorris, iluminas a casa           Dum celeste esplendor. A alegria é na infância o que na ave é asa           E perfume na flor. Ó doirada alegria, ó virgindade santa           Do sorriso infantil! Quando o teu lábio ri, filha, a minha alma canta           Todo o poema de Abril. Ao ver esse sorriso, ó filha, se concentro           Em ti o meu olhar, Engolfa-se-me o céu azul pela alma dentro           Com pombas a voar. Sou o Sol que agoniza, e tu, meu anjo loiro,           És o Sol que se eleva. Inunda-me de luz, sorri, polvilha de oiro           O meu manto de treva! Guerra Junqueiro, in 'Poesias Dispersas'  

Da injustiça

Nas sociedades social-democratas (que são aquelas que têm sistemas de segurança social mais ou menos eficazes, assentes no sistema previdencial de natureza contributiva), estabeleceu-se como regra para a tributação do IRS e para a concessão de apoios e direitos sociais (como a ação social) a regra da progressividade. Isto é: paga mais quem mais ganha e recebe mais quem tem menor rendimentos. Isto acontece por uma boa razão: esta solidariedade social permite a redistribuição de rendimentos dos que mais ganham em favor dos que ganham menos. Desta forma, promove-se a justiça social e corrige-se ou, pelo menos, esbatem-se, os desequilíbrios sociais que advêm do rendimento individual, concorrendo assim para a igualdade de oportunidades a todos os cidadãos. É nesta lógica que assenta a ação social escolar: apoia-se financeiramente as famílias carenciadas para que as suas crianças possam ter acesso aos mesmos recursos escolares que aqueles que são provenientes de famílias mais abastadas. Or
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God trusted me with your life But I'm a fraud I'm afraid I'm afraid that the blood is ringing through the trees And the war is about to begin I'm sorry I've been guided I know I let you down Remember That this life is just an illusion If only I could move in and out Of nonexistence To a space between places Space Space Space Space between places I'm not afraid I'm not afraid God! Don't be afraid, "Beatriz". Love everything. Love Everything Love everything. Fear only brings a death to a soul. I know that now.

"Não entres tão depressa nessa noite escura", ou da argumentação sobre a eutanásia

" Então, a dignidade da morte viria desta ser a pedido, consciente e livre! Mas… todos sabemos que a liberdade é sempre condicionada e, de modo especial, ainda mais, no grande sofrimento ou na euforia.  Um mínimo de psicologia e de entendimento da linguagem sabe que não se pode tomar à letra o que se ouve ou se lê.  Quantas vezes atendo pessoas que mais ou menos com insistência me dizem “não aguento mais”, “não sei o que ando cá a fazer”, “isto não faz qualquer sentido”, “quero morrer, ajude-me”, etc. Então começa a conversa, respeitando essa dor. Conte-me a história toda, vamos ver por onde entra essa imensa solidão ou essa revolta, essa culpabilidade ou experiência de desamor insuportável… vamos falar dessa infelicidade, desse medo aterrador, desse sentimento de exclusão… E, tirando alguns casos de suicidas obsessivos, sempre se encontra algum caminho, uma janela, que ajuda a ver a luz (lá ao fundo), a descobrir uma aceitação possível. É preciso tempo, paciência e acolhimento pa

Sobre os sem-abrigo

Desde que foi publicada a reportagem no DN-Madeira, no dia 21 de janeiro , sobre os sem-abrigo do Funchal, que vejo por aí muitos escritos sobre o assunto. Em primeiro lugar tenho de dizer que a abordagem feita pela jornalista é pouco personalista, uma vez que não observa a dignidade absoluta que é devida à pessoa humana. É uma abordagem que objectifica o que é absolutamente subjectivo. E por isso, creio, gerou muita indignação. Mas é curioso que, do que leio, percebe-se que passe a indignação - que é legítima e salutar, porque enquanto nos indignamos mostramos ter ainda um pingo de humanidade e sem ela não é possível transformar o mundo para melhor! -, a maior parte dos escritos revela uma absoluta ignorância sobre as causas do problema e, logo, sobre as respostas que a sociedade tem de dar para o resolver. Eu também estou longe de ser especialista mas pelo que tenho lido e pelo que tenho observado a maior causa do fenómeno é de origem psiquiátrica e psicológica e não a pobreza,