“Ódio à nossa casa”, por Arturo Pérez-Reverte - JM 18-10-2024
No passado dia 7, foi publicado no DN um artigo de opinião, do
famoso escritor espanhol, que deveria merecer a nossa maior atenção e reflexão.
Sem alarmismos, e reconhecendo que a Europa sempre foi um
local de mestiçagem étnica e cultural, Arturo Pérez-Reverte chama a atenção
para uma nova Europa que vai surgindo, que se caracteriza por ser uma
miscelânea de culturas e comunidades estranhas umas às outras, sem
interligação, sem diálogo intercultural e sem integração.
Disclaimer: Artur Pérez-Reverte é um dos mais proeminentes
escritores europeus da atualidade e um intelectual de referência. E está longe
de ser um "perigoso fascista". Concorda que a imigração não pode nem
deve ser travada, porque é inevitável e necessária. Por tudo isto, os seus
alertas e reflexões devem ser levados muito a sério.
De acordo com o autor, a civilização europeia pode vir a ser
substituída por outra, assente em valores pouco democráticos, trazidos por
comunidades que começam a assentar arraiais em guetos, nos centros das cidades.
A sua tese é que os governos europeus estão a falhar na integração dos
imigrantes que chegam todos os dias, não se importando com as consequências que
esse desenraizamento poderá trazer, por razões gananciosas e egoístas
(“mão-de-obra escrava”), mas também por cobardia (o medo de serem apelidados de
islamofóbicos ou racistas). Na sua opinião, os imigrantes muçulmanos deixam a
miséria para trás, mas trazem a sua religião e um património cultural e
histórico que se opõem aos da Europa. Defende, igualmente, que aos imigrantes
muçulmanos são permitidas veleidades que não são permitidas ao comum dos
cidadãos, como não educar os seus filhos com a mentalidade do país de
acolhimento, mas com a do país de origem, por exemplo. Os bairros, as
mesquitas, as escolas, a televisão destas comunidades, segundo Reverte,
permitem que usufruam de direitos impossíveis nos seus países de origem, mas no
que toca ao respeito pelas obrigações exigem um tratamento diferenciado,
argumentando com a sua religião.
A tese é que não está a haver diálogo intercultural nem poderá
haver, porque a Europa não é governada a partir de igrejas ou mesquitas; trata
as mulheres como seres livres e independentes, e não como propriedade dos
parentes do sexo masculino; promove valores humanistas como a tolerância, a
liberdade, a igualdade ou a dignidade humana.
E por isso, entende que não há “desacordo entre iguais”. Neste
aspeto, considera que a Europa está muito à frente, “razão pela qual milhares
de migrantes vêm para cá para se refugiarem ou ganharem a vida.”
Por isso entende que é tempo de deixar de ter medo de afirmar
a superioridade da civilização europeia em termos de direitos, liberdades e
garantias. Porque essa perda de receio será o que irá permitir manter e
expandir estes direitos e liberdades para nós e para todos os que chegam. Aprofundando
o que de melhor nos deu a civilização europeia e não a perdendo!
Deixo um trecho, para aguçar o apetite.
"O problema é que as regras do jogo nunca lhes foram
definidas com firmeza: obtenham trabalho e respeito, mas respeitem as regras
vigentes. Levem os vossos filhos para escolas que os integrem, não chamem
prostituta à vossa filha ou à minha por usar minissaia, não a case com alguém
que ela não queira, não lhe mutile o clitóris, não lhe cubra a cara ou a cabeça
quando tiver a primeira menstruação. Vocês trazem virtudes que eu aprecio.
Vamos aprender uns com os outros e vamos dar-nos bem. Caso contrário, a porta
está aí."
Não concordando com tudo o que escreve, mas parecem-me muito
pertinentes os alertas de Pérez-Reverte.
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