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A mostrar mensagens de 2010
Beatriz Bilou Gomes...*
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Regressei da Madeira sem saber bem se estou à espera para ser pai ou se já havias nascido. A tua madrinha Arcília ofereceu-te roupas (mini-saias, por Deus!) que nem aos 40 anos vestirás… E quase que fui obrigado a deixar todos os meus haveres, para que pudesse trazer-te todas as prendas! *... Despe já isso!
A minha filha é mesmo!
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Provavelmente todos os pais garantem o mesmo, mas eu não tenho dúvidas que, a julgar pela reacção que desenvolves aos estímulos que te são dados, serás genial. No teu caso, jurarei a vida toda que este não é apenas uma esperança exótica de pai. É tão só uma evidência que retiro da observação que faço de ti!
Do pontapé ao corpo!
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Novidade: deixaste de dar pontapés. Agora os teus movimentos assemelham-se aos movimentos de um pequeno alien. É fantástico apercebermo-nos da existência física do teu corpo. Não te dás a conhecer apenas através dos pontapés: neste momento, já nos é possível identificar toda a tua composição física, ainda que te mantenhas em repouso.
Identificação de Uh-Uh
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Sabes, estive na Madeira há pouco tempo, para ser padrinho da prima Lara. Como a Maria Inês, também a Lara deu-me algumas lições de bébês, desta feita acompanhada de uma oficina de comportamento. Aprendi como me devo comportar quando vocês, liliputianos, choram, quando estão chateados, enfim… Apesar do pouco tempo, até aprendi a identificar alguns dos uh-uh da Lara. Não sei se será útil para ti, mas pelo sim, pelo não, memorizei-os!
O teu pequeno exército
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Tão pequenina e já tão exigente! Exigente com o lado para onde dormes, exigente quanto aos horários, exigente quanto às conversas que insistes manter com os teus pais por ser. É verdade, como já havia pressagiado, és tão pequenina e já comandas o teu exército pessoal! Mas não faz mal: estamos ao teu inteiro dispor.
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Borboletinha, esta noite vi o teu rosto. Vieste até mim, uma vez mais, nessa realidade a que alguns chamam de sonho, e deste a conhecer mais uma parte de ti. Olhavas-me com curiosidade, como quem olha para uma qualquer exoticidade. O teu olhar inquisidor perscrutava algum sinal de familiaridade, como se a tua memória intuisse que também és sangue de mim. Como se os fios que te tecem latejassem e não soubesses a razão - Borboleta, sou teu pai! E perante o exame a que fui sujeito, mantinha um sentimento paradoxal de inquietude e vaidade. Embevecias-me... Embeveces-me! Desvelas-te assim, devagar, aos pedacinhos. Como se soubesses que a sofreguidão que tenho de te ver fosse um incêndio demasiado intenso a queimar-te o olhar. És um pequeno anjo em tons de azul, e sabes que o Beijo que te aguarda tem de ser dado aos poucos.
Primo vivere...
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Borboletinha, esta foi semana de revelações, de aquisições, de decisões e de contradecisões. Primeiro, tínhamos decidido que compraríamos o teu berço no fim-de-semana passado. A missão era simples: comprar a caminha que tivesse o teu nome inscrito, mas o plano saiu frustrado. Não havia berço para A Beatriz. Também queríamos comprar o fraldario. Excursão ao Ikea (sim, é verdade, conseguiram arrastar-me até àquela catedral dos legos), mas nada de fraldarios (e está decidido que a tua mobília não terá origem nos pinhos da Suécia). Depois, levamos-te à praia, mas acho que não te chegaste a aperceber bem, porque agimos como fugitivos e debandávamos, mal o sol surgia no horizonte. De regresso a Évora, recebeste duas prendas: o teu primeiro ginásio; uma caminha (áh, pois é, de momento está arrumada a questão do berço!), oferecida pela prima Maria Inês e a promessa de um carrinho, para poderes passear a teu bel-prazer. Hoje, foi dia de foto(eco)grafia. Elegantíssima com as tuas 599 gramas (é
Boa música não te falta, minha filha!
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Incentivado pela literatura para futuros pais (e outras piroseiras que encontramos na net) e pela provocação da tua tia woab , dei-te hoje muita mais boa música. Registo: às 23 semanas reages a Chopin e Grieg (pelo menos a Peer Gynt ) e dás pontapés ao ouvir Wagner (também pode ter sido pelo choco grelhado que o pai te deu, mas estou em crer que filha de peixe sabe nadar e serás uma apaixonada por Wagner, como o pai). Não reages a Bach nem a Vivaldi e adormeces (pelo menos a tua mãe adormeceu e não dei por teres dado saltos) a ouvir Carmina Burana (é tão antigo, não é?!). Tão pequenina e já tão selectiva, hã?!... Para já, vou insistir naqueles que pareces mais gostar. Pode ser que venhas a ter melhor ouvido que os teus pais!
E depois de Vivaldi, Chopin, com o Estudo n.º 3 - Tristeza...
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Sons
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Dizem que os bebés reagem às Quatro Estações , de Vivaldi. Das duas, uma, Beatriz: ou não vais nada às compras com música clássica, ou gostaste tanto que te puseste bem quietinha no teu canto, para não perder piatada dos alegros , adagios e largos do il prete rosso*. Pelo sim, ou pelo não, vou continuar a oferecer-te boa música. Não sei se ganharás bom gosto, mas tentar não custa e é bem mais fácil ouvir os velhos grandes mestres do que as piroseiras que constituem as músicas para bebés. * Padre vermelho , não por ser comunista, mas por ser ruivo! PS - Hoje fui visitar a tua prima Maria Inês. Para além do prazer que é ver a giraça, ia com uma missão secreta, que não ousei contar nem à tua mãe: ando a ver se aprendo bebês , para quando nasceres podermos encetar as nossas longas conversas. Já tenho a promessa da tua prima, que me foi dada em forma de choro contínuo e persistente - e que apesar dos soundbites debitados pelos pequenos pulmões, mais ninguém se apercebeu -, que terei uma
Quantas vezes as mães cantam, com vontade de chorar?!
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Golden Child
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No domingo passado, convidei a tua tia Arcília para tua madrinha. Ela não se limitou a aceitar: poucas vezes a vi tão feliz. Ela, que será avó pouco tempo antes de voltar a ser tia (e madrinha) sentia-se como uma criança com prenda nova perante a iminência de seres sua afilhada. Filha, assim és tu: ainda não nasceste e já alteras a vida dos que te rodeiam, enchendo de alegria os que são tocados por ti. És uma pequena Midas, que transforma em ouro tudo o que tocas
(A)guardo-te!
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Pequenina, sei que vens vindo. Estás a caminho de te fazer pessoa, de encontrar o teu lugar neste nosso mundo. A tua mãe diz - e com propriedade - que te procurou sempre e que a tua existência é imemorial. Que precedes as 250 gramas que constituem o teu corpinho. Sinto que é verdade, isso que a tua mãe te diz. Não, tenho certeza, porque apesar de te ter descoberto há pouco, parece-me que a tua alma é velha, sábia. Serás o equilíbrio, a ponderação, o balanço que por vezes falta ao teu pai. E é essa certeza da tua precedência que me ilumina. Sinto que te coheço há muito, ainda que a tua descoberta seja recente. E és salvação, porquanto portadora da esperança. Aguardo-te, minha pequena bailarina. PS - Amo-te!
Porque não te oiço
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A tua existência impôs-se-nos. Não há mundo sem Beatriz (terá alguma vez havido?) e por isso, quando não te oiço, desespero! Sim, é natural que nem sempre "espulangues", com essa vivacidade que nos enternece e nos faz, também, sentir vivos. Mas, Beatriz, qualquer ausência tua "neantiza"-nos, elimina essa possibilidade de ser(mos), que nos é dada pela tua aparência. Porque és, fazes de nós ser, conferes-nos essa qualidade. E o drama da nossa existência já é a abstinência de ti. Tenho saudades de te ouvir. No fundo, tenho saudades de te ver nascer...
Beatriz, porque te descobrimos o nome
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Já és sem que o tivesses sido. És Beatriz porque te descobrimos o nome. A tua mãe procurou-te, o teu pai descobriu-te. Não imaginava que existias, nem sequer sabia que o fio que vos liga já estava tecido. Mas a perseverança da tua mãe, a certeza gritada pelo seu coração, guiou-nos até ti. Neste momento, neste derradeiro momento, és tu quem caminhas até nós. Vens pelo espaço sem tempo, cruzas já os anéis de Júpiter e percorres esta distância que nos medeia. Vens saltitando, com olhos doces e riso traquina, nesse jeito pueril que terás de ser mulher. Vem Beatriz até nós. Vem sem pressa, mas não te atrases. Aguardamos-te ansiosamente. És o nosso maior amor, pequenina.
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Bum-bum! Bum-bum! Bum-bum! Até hoje, apenas te reconheço esta voz. Este som que te faz vida, que assinala a tua presença, que me garante que não és simples memória de um sonho. Pelo som que nos concedes, não é, ainda, possível, identificar qualquer reacção tua, qualquer sentimento, qualquer desejo. E, no entanto, falamos… Estabelecemos, já, longos diálogos, como promessa do que há-de vir, sobre a Vida e sobre o Amor. Já estabelecemos um elo inquebrável, que não se reduz a qualquer exoterismo ou misticismo oco. Já me demonstraste que és, porque existes, não como essência, mas como presença no plano da existência. Não leste Sartre, não leste de Beauvoir, não leste Camus, mas já te instituíste. Uma existencialista que me saíste, tu! Bum-bum! Bum-bum! Bum-bum! Com a tua atitude assertiva, o teu carácter vincado, demarcas já o teu espaço. Uma General de 400 gramas, do tamanho da minha mão – mas é uma mão grande, dizes-me sorridente e já me condenando à veneração a uma deusa pagã! Bum-bum! B