Ridículo. O Homem-lento não tem direito ao amor. Não vê a sordidez escandalosa e obscena que é o homem-de-uma-perna-só desejar o corpo saudável, pleno de vida, de uma mulher jovem? Que lhe passará pela cabeça? Terá mesmo acreditado que ela o amaria? Que ela substituiria a paixão que sentia, por afeto e admiração? Que era digno de sentir a pele macia das suas coxas nas mãos velhas, calosas e gastas? Que poderia ser dono da suavidade de seda da pele dela? Exaltava-o imaginar ser merecedor de uma massagem apaixonada. Beijaria os seus olhos, beberia as suas lágrimas sofregamente: sim, meu amor, não chores, estou aqui para ti, não te deixarei, não te abandonarei nunca, acompanhar-te-ei sempre, desde que me prometas amor eterno, afinal já não falta muito, a eternidade para mim são apenas uns anos, sim meu amor, fica comigo, beija-me e ama-me, venera-me até ao fim, deixa tudo, vá, mesmo que não deixes, associa-me à tua vida, inclui-me na tua lista de afetos, só ele e eu, ninguém mais, p