A falência das sondagens

Li, aqui há uns tempos, umas declarações de um sociólogo que atribuía o falhanço das sondagens nas eleições legislativas britânicas ao receio das pessoas parecerem politicamente incorretas.
A tese era que as pessoas estão demasiado condicionadas pelo pensamento mainstream e temem que as suas opiniões as possam de catalogar como intolerantes, antiquadas, radicais, desajustadas, injustas, ingénuas, pouco inteligentes e/ou informadas. De acordo com a teoria, os cidadãos promovem a autocensura, sentindo que há coisas que não se podem dizer. Posto isto, quando inquiridas pelas empresas de sondagens, as pessoas, com receio de serem estigmatizadas, dizem aquilo que esperam que o outro lado quer ouvir e não aquilo que verdadeiramente pensam.
Nesse artigo, chamava-se a atenção para a aparente “espiral do silêncio” (teoria de Elisabeth Noelle-Neumann), em que as pessoas se deixam modificar pela perceção que têm sobre aquilo que maioria pensa. Com receio de algum isolamento social e temendo que a sua opinião seja minoritária, deixamos de ser honestos nos estudos de opinião, manifestando aquilo que verdadeiramente pensamos aquando o voto (porque secreto).
Mais recentemente, nas legislativas gregas, todos os estudos de opinião votaram a falhar redondamente.
Vem isto a propósito das sondagens feitas em Portugal e para a real possibilidade de errarem em grande. Estarão as pessoas a ser verdadeiras quando respondem a estes estudos? Estaremos efetivamente assim no empate técnico entre  a coligação PSD/CDS e o PS? Ou os inquiridos estarão apenas a manifestar a opinião do establishment, a veicular aquilo que julgam ser a opinião da maioria?

Sinceramente não sei. Mas não me admiraria nada que na noite de 4 de outubro nos surpreendêssemos todos com os resultados das eleições. E que as eleições viessem confirmar a falência dos estudos de opinião.

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