Os muros e a humanidade

Cresci a sonhar com a queda do Muro de Berlim e assisti, quase em direto, euforicamente, ao seu desmantelamento. Julgava eu que se caminhava para a queda de todos os muros que segregam, excluem e separam. Nos anos 90 estava convencido que os meus filhos, se os tivesse, viveriam num mundo sem muros.
Quase 5 anos após o seu nascimento, vejo que o reaparecer de barreiras fortificadas acompanham o crescimento da minha filha: o reforço das muralhas de Ceuta e Melilla, Hungria, fronteira dos EUA com o México, da Turquia com a Grécia, da Índia com o Paquistão e o Bangladesh, Palestina e mais cerca de 30 outros muros que isolam uns (d)e outros.
Igualmente grave (ou ainda mais) é o facto de muitos destes muros estarem a ser edificados não apenas com o objetivo de impedir a passagem de pessoas, mas com o objetivo deliberado de causar dor às pessoas. Todos eles estão rodeados de arame farpado que, como afirmou o bispo espanhol Santiago Martinez, são um ataque à integridade física dos refugiados, porque as “farpas cortam, ferem, mutilam…”. É um desrespeito intolerável pelo Outro, não apenas porque é uma fonte de humilhação mas também porque estes muros estão feitos para explorar os baixos limites de tolerância à dor dos seres humanos. Como escreveu no New York Times Marcello di Cintio “por trás dos altos ideais de segurança e defesa da soberania invocados para erguer estes muros esconde-se uma verdade sombria: basicamente foram criados para fazer mal aos outros.”

É este o mundo em que estamos a viver? Pior ainda, é haver quem defenda o reforço destas muralhas. Apetece perguntar: e a humanidade, pá?

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