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A mostrar mensagens de 2025

A Diferença que Une JM 17_11_2025

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  Confesso que não queria voltar a este tema. Gostaria que o debate público em torno da imigração já tivesse superado o ruído das generalizações e dos preconceitos. Mas perante o ressurgimento de discursos populistas e xenófobos, alguns deles por parte de agentes políticos madeirenses, que procuram reduzir pessoas a números, e transformar quem chega em bode expiatório para os problemas sociais e económicos, o silêncio seria uma forma de cumplicidade ou cobardia. É por isso que importa voltar a falar. Para desmontar as falsas e estafadas narrativas que se vão instalando: a ideia de que os estrangeiros “vêm tirar o que é nosso”, “sobrecarregar o sistema” ou “descaracterizar a nossa identidade”. Nenhuma dessas afirmações resiste ao escrutínio dos factos. O que está em causa não é a presença dos imigrantes, mas a nossa capacidade – ou a falta dela! - de pensar e de construir políticas adequadas e justas e uma convivência baseada na equidade e no respeito. Os estrangeiros não são proble...

15 12_10_2025

  15 Hoje fazes 15 anos. Quinze voltas completas ao sol. E eu, quinze voltas a aprender o que é ser pai. Olho para ti e percebo que já não és menina, mas ainda o és. Que já és mulher, mas ainda não inteira. Estás nesse intervalo mágico em que tudo é possível: o riso que ainda é infantil, o olhar que já é de mulher, o sonho que cresce contigo. Há qualquer coisa de divino neste tempo. És flor e raiz, força e ternura, impulso e calma. És tudo o que um pai poderia sonhar e, ainda assim, és mais do que eu algum dia conseguiria imaginar. Neste último ano, reparei que já não te explico o mundo, converso contigo sobre ele. Já não te ensino a andar, caminho ao teu lado. Já não te protejo do mar, nado contigo. E é tão bonito ver-te ser. Recordo-me da bebé que cabia na palma da minha mão e da menina sempre feliz que enchia a vida de risos. Tenho saudades, claro. Mas gosto ainda mais desta fase, em que a tua presença é luz serena e furacão, conversa boa e discussão, cumplicidade inteira e uniã...

Imigração responsável, coesão garantida - JM - 17_10_2025

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Portugal é um país de partidas e de chegadas. A nossa história está marcada pelo encontro com o Outro e pelo esforço de integração: da nossa, nos outros países e dos estrangeiros, no nosso. O equilíbrio entre abertura e coesão é, não raras vezes, precário, razão pela qual torna-se fundamental que as políticas de imigração sejam rigorosas e objetivas. É por isso que a recente alteração à Lei dos Estrangeiros deve ser vista como um passo importante para uma política migratória mais responsável, mais justa e mais realista. Convém começar por distinguir dois conceitos que frequentemente aparecem associados: política de imigração e política de asilo. A primeira regula a entrada e permanência de cidadãos estrangeiros que procuram oportunidades económicas ou familiares e a segunda protege quem foge de perseguições, guerras ou catástrofes humanitárias. Misturar estas realidades é um erro e tem sido uma das causas de debate confuso e emocional em torno do tema. Aliás, os Juízes do Tribunal Cons...

Autárquicas: da virtude e do vício 19/09/2025 08:00

Da Virtude A competência e a devolução de resultados, especialmente em política, incomodam. Por isso é que tanta gente da oposição parece estar com urticária com a candidatura de Jorge Carvalho à Câmara Municipal do Funchal. Ao longo de 10 anos como Secretário Regional, Jorge Carvalho granjeou o respeito e o reconhecimento das famílias, da classe docente, dos sindicatos, dos diretores de escolas, dos auxiliares e dos seus colegas de Governo, de cá e do outro lado do Atlântico. Implementou medidas estruturantes, com resultados reconhecidos pela generalidade dos agentes educativos. Antes de mais, a transição para os manuais digitais, nos ensinos básico e secundário, que modernizou o ensino através do uso da tecnologia, flexibilidade curricular e diferenciação pedagógica, incluindo formação para professores e infraestruturas digitais nas escolas. Uma reforma que fará história no sistema educativo português (como tanta vez temos feito). Os resultados para o sucesso educativo não são imedia...

A nossa casa também se constrói lá fora 25-07-25

Durante demasiado tempo, os emigrantes madeirenses foram olhados com desconfiança por parte do poder político. Partiam por falta de escolha, fugindo à miséria e à falta de futuro. Levaram nas malas a coragem e nos olhos a saudade, mas, cá dentro, os regimes faziam por esquecer que existiam. Salazar via-os como braços que desertavam e, pior ainda, como esponjas dessas ideias perigosíssimas como liberdade e democracia. O Estado Novo, que tanto falava de pátria, nunca soube incluir os que tiveram de abandonar aquela que os pariu, para viver com a exígua dignidade de poder comer um bocado de pão. Foi só quando as remessas começaram a fazer diferença — e fizeram mesmo muita diferença! — que os emigrantes passaram a ser tolerados. Não reconhecidos. Tolerados. Serviam para equilibrar a balança de pagamentos. Mas continuavam a ser vigiados, controlados, mantidos à distância. Valiam mais pelo que enviavam do que pelo que representavam. Foi a democracia que mudou isso. E, sobretudo, a auto...

Ordem Mundial em Transição: De Vestefália a Kiev 22/08/2025 08:00 JM

Recentemente li a Ordem Mundial de Henry Kissinger. Nesse estudo, o ex-secretário de Estado dos EUA explora a história das relações internacionais, tomando o sistema de Vestefália (1648) como o ponto de partida para a ordem internacional moderna, baseado na soberania dos Estados e no equilíbrio de poder. O autor recorda-nos que “a ordem internacional assenta num conceito de legitimidade aceite por todas as grandes potências do sistema”. Quando essa legitimidade é posta em causa, a instabilidade alastra-se e hoje é precisamente esse o cenário em que vivemos. Os tratados nascidos em Vestefália que estabeleceram a soberania estatal, a não-intervenção e o reconhecimento mútuo parecem, em 2025, esgotados A soberania, outrora intocável, tornou-se permeável. O que hoje se observa, da Ucrânia à Palestina, de Taiwan ao Irão, não são apenas violações das regras vestefalianas, mas sim tentativas de as reescrever. A invasão da Ucrânia pela Rússia constitui uma afronta directa ao princípio vestefal...

Diversidade cultural: integração e responsabilidade - 02-06-2025

    No último fim-de-semana, celebrámos, em São Martinho, a 4ª edição da vibrante Festa da Diversidade Cultural, um evento que ultrapassa em muito a música, a gastronomia ou o artesanato. Em 4 anos, assumiu-se como uma afirmação clara de uma Madeira que é uma região global e cosmopolita, construída a muitas vozes, sotaques e culturas. Mas, passado o momento de celebração, segue-se a reflexão. A convivência entre mais de uma centena de nacionalidades na Madeira é uma realidade irreversível e de enorme riqueza. Contudo, o sucesso da integração de tantas pessoas provenientes de tantos países, de diferentes culturas, etnias e religiões não acontece por acaso. Exige planeamento, visão política e um compromisso firme com a integração e a coesão social. Por isto e ganhas as eleições pela AD, é nossa expectativa que as políticas que vinham sendo seguidas pelo anterior governo, lideradas pelo ministro Leitão Amaro, sejam prosseguidas. Porque o estado português necessita mesmo d...

O Lobo das Estepes as eleições

    Nos meus tempos de Coimbra “apresentaram-me” o Siddhartha , de Hermann Hesse. Li-o com agrado, mas não me despertou a vontade de continuar a explorar a sua bibliografia. Demasiado místico para mim, recorrendo a experiências espirituais e transcendentais como caminho para a verdade, o que pareceu um absurdo a um jovem que procurava as respostas existenciais no estudo da filosofia. A vida seguiu, os anos passaram-se, e as leituras acumularam-se. Livros, aos milhares, que fizeram muito mais do que decorar a casa: moldaram a forma como olho o mundo. Recentemente, nas vésperas de fazer cinquenta anos, li O Lobo das Estepes . Já estava na estante há algum tempo, comprado ao amigo Raúl, mas ainda não tinha sentido qualquer apelo em o folhear. Foi este ano, por vicissitudes várias, a maior das quais não ter nada melhor para ler. A esta altura, imaginamos que poucas coisas nos possam surpreender. Pelo menos naquilo que temos vindo a fazer toda a vida e que julgávamos domina...

Política de imigração integrada e humanista - 04_04_2025

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  A recente assinatura do protocolo de cooperação para a imigração laboral regulada, que teve lugar no Palácio das Necessidades, trouxe uma questão fundamental para o futuro do da Região: a necessidade de uma política de imigração holística, adaptável às nossas necessidades económicas e sociais. Nessa cerimónia, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou que a imigração deve ser encarada de forma integrada e ajustada à realidade nacional, uma visão que merece ser destacada e aprofundada e que reúne a nossa total aprovação. Em primeiro lugar, é importante reconhecer que, pela primeira vez na nossa democracia, um governo definiu uma política de imigração clara e estruturada. Até agora, as iniciativas nesta área foram pontuais e reativas, sem um enquadramento conceptual coeso. Com este governo, assiste-se à construção de um modelo que não só reflete as necessidades do país, mas também incorpora um humanismo essencial às políticas sociais. A abordagem holística é a grande novi...

O QUE QUEREM OS MADEIRENSES JM_07_03_25

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  Miguel Albuquerque foi eleito presidente do Governo Regional há quase 10 anos, num período marcado por um rigoroso programa de ajustamento financeiro, com medidas difíceis para famílias e empresas. Ainda assim, conseguiu reduzir a dívida pública — hoje mais baixa do que a de Portugal e da União Europeia — e impulsionar o crescimento económico, com destaque para o turismo e para as tecnologias. A economia regional está mais robusta do que nunca. O setor tecnológico, por exemplo, viu o número de empresas triplicar, de 200 em 2016 para cerca de 600 em 2024, criando emprego qualificado e um volume de negócios comparável ao do turismo. Paralelamente, a redução da dívida e a obtenção de superávits orçamentais permitiram continuar a investir em infraestruturas, incluindo o novo Hospital Universitário da Madeira, atualmente a maior obra pública em execução no país. Hoje, a taxa de desemprego está em mínimos históricos. Na educação, tantas vezes maltratada e ignorada, fez-se uma ...

MIGRAÇÕES: VERDADES E MITOS - JM - 07_02_2025

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  MIGRAÇÕES: VERDADES E MITOS Na semana passada foi publicado, no Expresso, um ensaio de Ian Goldin, Professor de Oxford, onde o autor mostrou o impacto económico das migrações, desconstruindo mitos, percepções erradas e falácias. No fundo, expôs a ignorância atrevida dos xenófobos. Quem acompanha, conhece, estuda e pensa o fenómeno das migrações chega, muito rapidamente, a uma única conclusão: as migrações são idiossincráticas à humanidade, sem as quais não teria sido possível a diversidade (genética, cultural, social, intelectual) que garante a nossa sobrevivência enquanto espécie e promove o desenvolvimento e o progresso civilizacional. Há agentes políticos que fazem vida da xenofobia – na Madeira também temos dessa categoria de gente! -, que afirmam alarvidades para obtenção de likes nas cloacas das redes sociais, e para ganhos eleitorais. Esta semana tivemos políticos a mentir e a fazer insinuações sobre os migrantes. A primeira, foi associar o aumento de pedidos de legalizaçã...

Parlamentar ou para lamentar? JM - 15/12/2024 03:30

Atravessamos tempos estranhos e preocupantes. Em apenas 1 ano e 4 meses, realizámos duas eleições legislativas regionais, e a previsão é de que dentro de 2 meses sejamos, novamente, chamados às urnas. Para além do evidente cansaço do povo madeirense, este ciclo constante de eleições impede a estabilidade e a previsibilidade indispensáveis ao desenvolvimento económico e ao bem-estar social. Aliás, com esta permanente volubilidade, é quase um milagre os resultados positivos que a nossa economia apresenta, bem como a tranquilidade social em que vivemos. Felizmente, os agentes económicos, sociais, culturais e desportivos, enfim, o nosso povo, não se comporta da mesma forma que os partidos. Digo-o sem pruridos, porque acompanho de perto o fenómeno político e a atividade parlamentar na Madeira: o que se tem passado na Assembleia Legislativa, a tensão, a agressividade, a incapacidade de colocar o interesse regional à frente de interesses pessoais e partidários, a dificuldade em negociar, são ...

Entrincheirados - JM _ 10-01-2025

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Nós vivemos numa frente de batalha estreita e somos agarrados à terra pela força da necessidade. Não lutamos, não conquistamos; apenas resistimos e não queremos ser destruídos. Remarque, Erich Maria, “A Oeste Nada de Novo” Ainda não passou um ano e cá estamos, de novo, a viver uma crise política. Em janeiro de 2024 deveu-se a uma operação de carácter quase paramilitar, tão questionável na proporção de meios e mediatismo, quanto na solidez da suspeita, que resultou na absoluta desvalorização pelo Juiz de Instrução Criminal (JIC). Apenas para recordar a montanha que pariu o rato: 2 aviões militares, 80 carros de aluguer; 2 autocarros, quase 300 agentes, 2 juízes, 6 magistrados do Ministério Público e um despacho do JIC que diz o seguinte: “Não existem, nos autos, indícios, muito menos fortes indícios de que (…) o arguido (…) tenha incorrido na prática de um qualquer crime”. Entretanto, fomos a eleições, foi dada posse a um governo, foi aprovado um orçamento. Os madeirenses pensaram, aliv...

VITÓRIA

No passado dia 4 de janeiro de 2024, fui deixar a minha filha Beatriz ao aeroporto do Funchal, para o regresso a Évora, após a passagem de ano comigo. Depois de a entregar ao funcionário que a acompanhou, subi ao terraço, à espera de ver a Bia entrar no avião e a aguardar pela sua partida. Obviamente que estava muito triste pela despedida e contava os dias para voltar a estar com a minha filha. Enquanto estava cá fora, vi uma linda menina, com uns 4 ou 5 anos, a brincar, correndo de um lado para outro. Estava acompanhada pela família que, como vim a saber mais tarde, era composta por pai, mãe e tio. De vez em quando, a menina aproximava-se e parava, encostada a mim. Ria-se e voltava a correr. Entretanto, a Bia entrou no avião e a menina continuava a brincar. Assim que A321 iniciou a saída para a pista, a menina aproximou-se novamente e ficou parada a olhar para mim. Falei-lhe, fiz-lhe carinhos no cabelo e também nada disse, nem se mexeu. Perguntei-lhe o nome e ela continuava vidrada em...