Na Grécia, como cá. Agora, como daqui a 20 anos.

Canterbury, 26 de julho de 2012


Korina, Augoustina e Lia são três crianças gregas perdidas nos bosques de Canterbury. As esperanças dardejam dos seus olhos: um futuro promissor; um trabalho. Desejam apenas uma oportunidade para gritar que não são vagabundas, que não são parasitas, que não devem ser responsabilizadas pelos erros dos outros, daqueles que determinam as suas vidas, que as destruíram sem que, sequer, algum dia tenham sido consultadas. Têm 22 anos e acabam de sair da universidade. São miúdas com desejos, que aspiram à vida que lhes foi prometida por gerações anteriores, que lhes inspiraram a ilusão vã de que poderiam viver e ser felizes na sua Grécia. Não compreendem porque têm de ser responsabilizadas pelos atos de governos corruptos, que não se limitaram a descuidar daquela que deveria ser a sua maior missão – a proteção do povo helénico -, mas que, pelo contrário, levaram à catástrofe da sua pátria.

Diziam-me as meninas gregas que os ventos que sopravam aquando das suas vitórias nacionais perspetivavam a aproximação da borrasca. Intuíam, com aquela sabedoria milenar que reina entre os protegidos de Atena. Não sei que delfiniano oráculo terão consultado, mas estavam certas. Todas aquelas gentes estavam certas. Não poderiam estar a acontecer tantas coisas boas, apenas por golpes de sorte. Não acreditavam ser merecedores de tamanhas virtudes e antecipavam já o sofrimento consequente. E, como aquele povo bem sabe, Zeus não é parcimonioso no castigo que inflige aos seus. Chegou e chegou forte.

Terminaram os seus estudos em Atenas e deslocam-se à antiga e tão mística Inglaterra para melhorar o seu inglês. Querem aprender mais, querem qualificar-se, querem aumentar as suas possibilidades de ser bem sucedidas. Regressam mais ricas, melhor formadas, com mais algumas habilitações. Mas não tenho dúvidas que lhes servirá de pouco. O mundo contemporâneo não premeia o trabalho, o esforço, o empenho, o merecimento.

Olho para elas, Beatriz, e penso em ti, daqui a 20 anos. Temo que o mundo se torne num lugar ainda mais perigoso, porventura inóspito. Não quero que sejas vítima dos erros dos outros e desconfio do legado que te deixo. Sei que não serei capaz de enfrentar o teu olhar, com a minha alma culpada, quando me perguntares: pai, era assim o mundo? Era assim a humanidade, quando tinhas a minha idade?

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