Paradoxo do voluntariado
Sempre tive um sentimento ambivalente e até paradoxal relativamente ao voluntariado institucional.
Movimentos como o Vamos limpar Portugal ou outros similares têm o condão de me causar desconforto. Porque se admiro a generosidade daqueles que estão disponíveis para participar nestes projetos, também sinto que à sociedade cabe exigir às instituições públicas (e privadas) que cumpram as suas obrigações. Quanto mais limparmos ribeiras e bosques, menos o farão as instituições competentes. Devemos exigir, parece-me, às autoridades fiscalizadoras, que o façam de forma exemplar e que punam implacavelmente os infratores; ao poder legislativo, devemos exigir a produção de leis dissuasoras; às instituições responsáveis pela higiene, que procedam à limpeza desses locais. Este é o papel da sociedade e dos cidadãos. Porque pagamos os nossos impostos para que assim seja. Não nos compete ir limpar espaços de outrem (públicos ou privados).
Diariamente observamos o quão contraproducente pode ser o voluntariado. De cada vez que o Estado falha nas suas competências, é chamada a sociedade a intervir. É preciso fazer cortes na despesa e despedir auxiliares de ação educativa? Chamam-se os pais e encarregados de educação. Não se pode investir em segurança? Estimula-se a criação de comissões de vizinhos para garantir o policiamento dos bairros. Exemplos são mais do que muitos.
E é este modelo de voluntariado que mais abomino: aquele que é promovido pelas autoridades que se demitem das suas responsabilidades.
Por outro lado, o voluntariado é também um daqueles conceitos (como a “caridadezinha” – não confundir com caridade cristã) que engrandece as classes mais privilegiadas e prejudica as classes mais baixas da sociedade. Porque uns fazem, gratuitamente – porque não precisam! - o trabalho que outros poderiam fazer com remuneração (fundamental para a sua sobrevivência). É, parece-me claro, uma forma de promoção do desemprego, logo, profundamente prejudicial à sociedade.
Por isso, filha, não sei bem como te deva educar no que toca ao voluntariado. Admiro a abnegação do indivíduo, mas creio que a sociedade sai a perder desse ato de bondade.
Não sei o que fazer. Talvez explicar-te isto e deixar que retires as tuas próprias conclusões venha a ser uma boa ideia…
Movimentos como o Vamos limpar Portugal ou outros similares têm o condão de me causar desconforto. Porque se admiro a generosidade daqueles que estão disponíveis para participar nestes projetos, também sinto que à sociedade cabe exigir às instituições públicas (e privadas) que cumpram as suas obrigações. Quanto mais limparmos ribeiras e bosques, menos o farão as instituições competentes. Devemos exigir, parece-me, às autoridades fiscalizadoras, que o façam de forma exemplar e que punam implacavelmente os infratores; ao poder legislativo, devemos exigir a produção de leis dissuasoras; às instituições responsáveis pela higiene, que procedam à limpeza desses locais. Este é o papel da sociedade e dos cidadãos. Porque pagamos os nossos impostos para que assim seja. Não nos compete ir limpar espaços de outrem (públicos ou privados).
Diariamente observamos o quão contraproducente pode ser o voluntariado. De cada vez que o Estado falha nas suas competências, é chamada a sociedade a intervir. É preciso fazer cortes na despesa e despedir auxiliares de ação educativa? Chamam-se os pais e encarregados de educação. Não se pode investir em segurança? Estimula-se a criação de comissões de vizinhos para garantir o policiamento dos bairros. Exemplos são mais do que muitos.
E é este modelo de voluntariado que mais abomino: aquele que é promovido pelas autoridades que se demitem das suas responsabilidades.
Por outro lado, o voluntariado é também um daqueles conceitos (como a “caridadezinha” – não confundir com caridade cristã) que engrandece as classes mais privilegiadas e prejudica as classes mais baixas da sociedade. Porque uns fazem, gratuitamente – porque não precisam! - o trabalho que outros poderiam fazer com remuneração (fundamental para a sua sobrevivência). É, parece-me claro, uma forma de promoção do desemprego, logo, profundamente prejudicial à sociedade.
Por isso, filha, não sei bem como te deva educar no que toca ao voluntariado. Admiro a abnegação do indivíduo, mas creio que a sociedade sai a perder desse ato de bondade.
Não sei o que fazer. Talvez explicar-te isto e deixar que retires as tuas próprias conclusões venha a ser uma boa ideia…
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